Os Capitães da Areia
“O Verão Eterno”
Amor Fúria
4 / 5
Num país com as horas de Sol que tão bem conhecemos não deixa de ser curioso reparar na frequência inversamente proporcional com que essa mesma luminosidade abraça a melhor pop que aqui se faz, a melancolia, o cepticismo, a crítica contundente ou o desencanto sendo inclusivamente mais frequentes inquilinos das melhores canções que por cá vão nascendo. Tanto que, quando se fala em música de Verão, muitos de nós estabelecemos talvez uma ligação quase automática a canções que fazem a banda sonora das festas que, nos dias de calor, levam o baile por esse país fora (e que de pop nada têm na alma). Mas nem toda a música de Verão soa assim. Nem toda a pop (e periferias) pode viver debaixo do toldo, mesmo com a praia pela frente. E é essa a primeira das razões que explicam o sabor particularmente refrescante (e desde logo compensador) que exala das canções de O Verão Eterno, o álbum de estreia d’Os Capitães da Areia. É pop. É uma música luminosa. Feita de canções de amor para dançar e sonhar. Sabe bem. E por aqui não precisamos de muito mais, pois não? Se a banda é ou não sazonal, esse é debate fora de época (e é de resto desde logo curioso ver como um disco que sabe a Verão chega às portas do Inverno, como que quem diz que as coisas podem ser o que são, mas não se fecham em compartimentos estanques). O disco, sim, sabe a Verão. Com sabor a uma pop que sabe morar entre referencias indie do nosso tempo. Mas que sente uma ligação particularmente forte com genéticas locais, não apenas ao aceitar heranças pop/rock do Portugal dos oitentas (e não será demais referir aqui uns Heróis do Mar), mas também escutando um certo calor africano que nos aquece em alguns dos vocábulos para guitarra que caminham entre as canções. Se Bailemos no Teu Microondas tinha sido promissor cartão de vista (não consta do alinhamento do álbum, mas merecerá um dia o seu lugar num “best of” quando a coisa lá chegar), O Verão Eterno em tudo corresponde às expectativas, colocando pela nossa frente uma mão cheia de bons momentos que fazem luz mesmo quando as nuvens toldam a paisagem. E como se não bastasse a belíssima colecção de dez canções, o instrumental, sob o tema-título do álbum que encerra o alinhamento, faz o efeito de contemplação de fim de tarde, que lembra aqueles momentos em que o dia dá suavemente lugar à noite em tempo de Verão... Este é o melhor disco pop nascido por estes lados desde a Companhia das Índias, que Rui Reininho editou a solo, em 2008. Sejam bem-vindos, os Capitães!
Dois recados: O package é bonito, mas aquela cola dá cabo da capa! Já agora, uma edição em vinil não era coisa mal pensada...