Dear Reader
“Idealistic Animals”
City Slang
3 / 5
Há discos que, mesmo sem o recurso ao “era uma vez eu” confessional, não deixam de ser retratos de quem os faz naquele tempo e naquele lugar. É o caso de Idealistic Animals, o terceiro álbum editado sob a designação Dear Reader, mas na verdade o primeiro que representa um trabalho a solo da vocalista Cherilyn MacNeil. Depois de dois álbuns criados em Joanesburgo (África do Sul), onde a banda surgira em 2006, Cherilyn procurou alargar horizontes, num processo que implicou o largar de amarras e partir para longe, encontrando nova casa em Berlim onde criou parte de um disco que conheceu ainda Portland (no Oregon, EUA) como outro dos seus portos seguros. Daryll Torr, que com Cherilyn partilhara o trabalho nos dois primeiros álbuns de Dear Reader, optou por ficar, dando continuidade a uma carreira na produção. O sentimento de ruptura que nasce inevitavelmente de uma separação, juntando-se a uma crise pessoal que ganhou forma na cantora quando esta viu todo um velho mundo de segurança numa ideia de fé cair por terra (a intensa crente que em tempos fora não se reconhecendo mais na céptica que hoje é), alimentaram no fundo os estímulos que desencadearam a criação de novas canções que, aparentemente inofensivas num primeiro contacto, não são senão ecos de um tempo de dúvida e de dolorosa busca para um novo sentido de vida. Apesar dos diálogos para voz e guitarra surgirem na base da construção das canções, tanto as electrónicas (discretas) como as estruturas rítmicas contribuem para a construção de pequenos retratos frágeis que, cada qual centrado na identidade de um animal, na verdade não deixam nunca de ser reflexões sobre a condição humana, definindo um pequeno ciclo de canções que mora entre as boas surpresas desta recta final de 2011.