quinta-feira, dezembro 08, 2011

Discos pe(r)didos:
Paul Haig, Coincidence vs Fate


Paul Haig
"Coincidence vs Fate"
Les Disques du Crepuscule
(1993)
Ele foi, no inícios dos oitentas, a voz dos Joseph K, uma das bandas do catálogo da mítica Postcard Records, editora independente escocesa que então acolhia no seu catálogo nomes como os Orange Juice ou Aztec Camera. A banda não viveu mais que o tempo para nos deixar cinco singles e um álbum, Paul Haig seguindo o seu caminho por sua conta logo depois. Encontrou sinais de entusiasmo em Bruxelas (para onde se mudou temporariamente, ligando-se à editora Les Disques du Crepuscule), regressou à Escócia e em 1983 encetou uma discografia que o colocou num patamar atento a formas e referências além do universo pós-punk dos Joseph K. Em Rhythm of Life trabalha com nomes como Alex Sadkin (que no mesmo ano produziu os Duran Duran e Thompson Twins), Bernie Worell (Parliament) e Anton Fier (Feelies e Golden Palominos). Em The Warp Of Pure Fun (1985), contava com Bernard Sumner (New Order) e Donald Johnson (A Certain Ratio) como produtores. E em Chain (1989) foi com Alan Rankine (dos Associates) que trabalhou. É contudo no disco seguinte que leva mais longe a exploração de um interesse pela música de dança, criando em Coincidence Vs Fate um dos mais interessantes discos nascidos do diálogo entre a canção pop e a house de Chicago nascidos por aqueles tempos. Com Kurtis Mantronik, Lil’ Louis e os The Chimes a dividir entre si tarefas na produção, o disco revela uma escrita que, sem perder a canção como célula estrutural, Paul Haig avança com entusiasmo pelos caminhos da house, acolhendo mesmo espaço a algum tempero jazzístico, como se escuta no piano e guitarra em My Kind ou Si Señorita, nas mãos de Peter Black, não perdendo nunca de vista uma alma pop, que emerge luminosa nos irresistíveis Born Innocence ou Out Of Mind. Surrender, em registo de balada à la 60s, destoa, mas serve de pausa tranquila entre o festim rítmico que domina o alinhamento. A outra carta fora do baralho surge logo depois em Stop and Stare, tema onde Paul Haig assinala uma ponte com a sua obra anterior, representando esta uma janela aberta a memórias dos oitentas. Longe de ter representado um êxito, Coincidente Vs Fate foi mesmo assim um feliz reencontro pontual de Paul Haig com a editora belga onde se estreara dez anos antes. O disco teve entretanto uma reedição com uma capa completamente diferente, que em nada reproduz o apelo chic das imagens que acompanharam o lançamento original.

E onde anda Paul Haig? 
Paul Haig tem mantido activa a sua carreira discográfica, mantendo desde 2001 a sua própria editora, a Rhythm of Life. O seu mais recente álbum é Relive (editado em 2009).