Quem viu/ouviu alguma coisa sobre os prémios da Academia de Cinema Europeu? Por certo quase nada através das televisões... as mesmas televisões que não se cansam de se inquietar sobre os destinos da Europa — este texto foi publicado no Diário de Notícias (9 de Dezembro), com o título 'Contra o cinema europeu'.
Sou grande admirador de muitos filmes e muitos criadores do cinema americano. Por isso mesmo, abomino todos os discursos que, em qualquer contexto, tentam favorecer a ideia segundo a qual é preciso escolher o cinema europeu “contra” o americano... Como se a afirmação da nossa identidade passasse pelo menosprezo pelos outros. Em todo o caso, importa perguntar como (não) se defende o cinema europeu. Ou melhor: importa reconhecer que há um estilo de (des)informação que reduz a produção cinematográfica europeia a um acidente desprezível do mercado.
Aconteceu de novo com os Prémios do Cinema Europeu, atribuídos no passado sábado em cerimónia realizada em Berlim. De facto, sabemos que os Oscars de Hollywood suscitam (e muito bem) uma enorme atenção mediática, por vezes, infelizmente, mais anedótica que analítica ou apenas racional. Ora, face aos prémios da Academia Europeia de Cinema, voltou a predominar uma militante indiferença televisiva, ao mesmo tempo que fantasmas de estripadores na reforma fazem as delícias da nossa mais medíocre pedagogia social.
Daí que valha a pena voltar a repetir a pergunta mais básica que a conjuntura suscita: para além da proliferação gratuita de discursos de “defesa” da Europa, que fazem as televisões a favor do... cinema europeu? Quase nada, importa dizer. A ponto de os mais importantes prémios oficiais da produção do nosso continente merecerem menos evidência (e muito menos “análises”) que qualquer treino de Benfica, Sporting ou Porto... há muitos anos sempre com as mesmas imagens banais, repetitivas, jornalisticamente preguiçosas.