terça-feira, novembro 15, 2011
Todos por um, todos por si mesmos
O universo da política americana, sobretudo o espaço de bastidores em tempo de eleições é terreno fértil para narrativas de ficção. Que o digam as duas épocas finais de West Wing ou a minissérie Recount (esta baseada nos factos que condiuziram à vitória de Bush na Florida no ano 2000 e, consequentemente, a conquista da presidência). The Ides Of March (estreado entre nós na passada 5ª feira como Os Idos de Março) é, além de mais um brilhante exercício de ficção criado sobre estruturas e rotinas características da guerrilha política, um novo exemplo da visão cinematográfica de George Clooney que, tal como no magnífico Boa Noite e Boa Sorte, afirma novamente uma noção segura do que é o desafio de contar uma história.
Os Idos de Março coloca-nos em tempo de primárias no campo democrata (algo que não acontecerá no ano que vem, que a disputa a este nível acontecerá no lado republicano). Dois nomes apenas podem vencer a nomeação, os resultados no Ohio (onde a acção se centra) sendo fundamentais para ambas as candidaturas). George Clooney veste a pele de um governador de ideias liberais, apoiado por Paul, um chefe de campanha (interpretado por Philip Seymour Hoffman) obcecado com a lealdade dos que consigo trabalham que tem por rival a figura criada por Paul Giamatti, ou seja o respectivo chefe de campanha do senador adversário. Mas a figura central é aqui Ryan Gosling, o assistente directo de Paul, um sonhador, crente numa visão do combate político como um espaço de verdade do debate das ideias... E nada como uma sucessão de acontecimentos inesperados para nele mesmo encontrar afinal um manipulador ao serviço de si mesmo, o cinismo que mora nos restantes peões do jogo acabando afinal por se manifestar ali da mesma forma.
O filme adapta a peça Farragut North, de Beau Willimon e, depois de uma sequência de cenas iniciais que, pela intensidade dos diálogos, parecia indiciar uma ideia não muito distante de uma opção de teatro filmado, revela afinal uma visão cinematográfica, as imagens procuradas e as soluções narrativas encontradas por Clooney em momentos-chave revelando mesmo um belíssimo instante de bom cinema. Mais que arma contra uns ou outros (as premissas ideológicas do candidato interpretado por Clooney agradarão aos democratas, o tropeção que dá a dada altura sendo acepipe para deliciar republicanos), Os Idos de Março é uma visão acutilante do cinismo que mora nos bastidores da luta política. Onde, mais que procurar causas e ideias, cada um afinal luta por si mesmo.
Imagens do trailer do filme