A observação parecia mais um desafio que outra coisa qualquer. Depois de assistir a Einstein On The Beach, que entretanto revelara novos caominhos (e vitalidade) para a música dramática, Hans de Roo, que comandava os destinos da De Nederlandse Opera, fazia uma observação a Philip Glass. Dizia-lhe que o que tinha acabado de ver era muito interessante, mas acrescentava: “e agora uma ópera a sério”?
Uma ópera a sério?
Einstein On The Beach acabou por ser geralmente apresentada como uma ópera, mas em nada seguia características do repertório operático tradicional. Não usava uma orquestra, nem mesmo um elenco de cantores líricos e a sua estrutura narrativa era igualmente invulgar face a esses padrões. O que seria, então, uma ópera a sério? Hans deixou clara a sua ideia. Seria uma ópera para a sua orquestra, coro e solistas... E de um simples desafio assim se lançava a primeira pedra para a construção de Satyagraha. O processo foi lento, obrigou à procura de parceiros para assegurar a sua produção, à busca de colaboradores... Mas em Setembro de 1980 um palco em Roterdão assistia, pela primeira vez, à segunda das óperas-retrato de Philip Glass.
No centro da narrativa encontramos a figura de Ghandi, o foco das atenções da ópera centrando-se no período entre 1893 e 1914 no qual o futuro líder indiano trabalhou, como advogado, na África do Sul. Esse foi um tempo determinante na formação de uma consciência política da qual nasceria uma forma de luta pacífica que, como explica o compositor no seu livro Musica de Philip Glass (traduzido entre nós pela Quasi), lançou as bases para as formas de protesto social e político que hoje conhecemos.
Hoje, pelas 18.00 horas, em directo do Met, com tecnologia HD, Satyagraha chega pela primeira vez a uma plateia lisboeta.
Imagens de uma reportagem que apresenta esta produção do Met.