terça-feira, novembro 29, 2011

Que consumos culturais?


N. G.: A mais interessante das conclusões que podemos tirar da pequena consulta de opinião que o Sound + Vision lançou aos leitores revela que, mesmo em tempo de crise e de cintos apertados, a vontade de abandonar os padrões de consumos culturais a que nos habituámos é pouca. Seja na expressão de quem afirmou que os vai tentar manter. Ou nas formas alternativas, que vão dos produtos em segunda mão a buscas de preços mais combativos na Internet... Escusado será dizer que semlhantes opções de vontade em manter as fasquias elevadas (ou relativamente elevadas) não parecem morar junto de quem faz as nossas políticas culturais. De resto, na hora de fazer cortes, a cultura surge habitualmente na linha da frente das opções (ou seja, não é novidade). Como se não fosse a cultura um investimento fulcral na formação de um povo, na sua valorização pessoal e promoção de ideias e feitos lá fora. Com a consequente expressão de uma ideia de modernidade, acção e visão... Mas isso não deve ser coisa interessante. Ou quem pensa a cultura não atingiu a coisa... talvez por falta de cultura. Se os modelos de apoio à cultura (quer por via governamental ou por processos de mecenato) e se a produção de cultura com apoios oficiais e privados são ou não os ideais, isso já é outra questão.

J. L.: Dificilmente regressaremos ao domínio do vinyl — é um facto. E é também um facto que, melhor ou pior, teremos de viver com a noção de que o livro já não é o padrão cultural dominante... Evitemos, ainda assim, a nostalgia fácil. O inquérito que aqui promovemos, dedicado aos chamados consumos culturais, deixa a ideia de que há uma vontade de encontrar vias mais ou menos alternativas para "tentar manter os consumos habituais" (opção que congregou 44% de respostas).
Escusado será dizer que a dimensão do universo de respostas não autoriza grandes especulações ou generalizações. Em todo o caso, permito-me sublinhar a percentagem muito significativa (quase um terço do total: 30%) de pessoas que refere a possibilidade de "comprar menos jornais". Podemos detectar em tal valor um sintoma de uma quotidiana deseducação para a escrita de que a cultura telenovelesca é uma das principais responsáveis. Mesmo assim, mesmo não esquecendo a devastação que essa cultura espalha, impunemente, no tecido social, vale a pena lembrar que pelo menos uma parte desse distanciamento dos leitores tem a ver com... os próprios jornais. Dito de outro modo: uma parte importante da dinâmica cultural portuguesa passa pelos jornais e, sobretudo, pela sua capacidade de se (re)pensarem para o tempo presente.