Tom Waits
“Bad As Me”
Anti
4 / 5
Foram sete anos de espera. Não de silêncio, apenas de espera por um verdadeiro sucessor para Real Gone. E foram de facto tudo menos silenciosos estes últimos anos na carreira de Tom Waits que, após esse álbum lançado em 2004, editou uma antologia de raridades, um disco gravado ao vivo e andou pela estrada. Bad As Me, anunciado há algumas semanas através das janelas de comunicação que a tecnologia hoje coloca à disposição de quem tem algo a dizer, é o 17º álbum de originais de Tom Waits, uma vez mais produzido por Kathleen Brennan, palco para algumas colaborações de vulto, o elenco revelando a presença de nomes como Keith Richards (dos Rolling Stones), David Hidalgo (Los Lobos), Marc Ribot ou Flea (Red Hot Chilli Peppers). Bad As Me devolve Tom Waits a terreno “clássico”, pelo alinhamento passando referências aos blues, ao rockabilly, rhythm’n’blues ou folk, entre outros caminhos que, aqui ou ali, moraram já por outros episódios de uma obra hoje conhecedora de uma rara quase unanimidade. Ao mesmo tempo apresenta-o num patamar de grande forma vocal. E continua, em alguns instantes, a descoberta de uma linguagem mais política tão bem experimentada em Real Gone e que agora ora comenta o desgoverno económico que faz as notícias do dia a dia (em Talking At The Same Time) ou a guerra, de um ponto de vista crítico (em Hell Broke Luce). Sem uma lógica de maior arrumação de ideias, como se constara tanto no díptico Blood Money / Alice de 2002 ou em Real Gone, Bad As Me opta antes por caminhar por trilhos onde a cada canção (e todas são relativamente curtas) damos por nós em cenário diferente, tão depressa caminhando entre os blues assombrados de Talking At The Same Time ou pelos ecos de um rockabilly projectado para o século XXI em Get Lost, entre o clima texano do belíssimo Back In The Crowd ou a folk de New Year’s Eve. Nesta altura do campeonato será difícil esperar de Tom Waits um momento de reinvenção de si mesmo como o fez, por exemplo, em Swordfishtrombones. Mas ao dar-nos uma tão nutritiva colecção de canções, de tamanhas vistas largas na abordagem às formas e de tão cuidada cenografia vai bem para lá de mínimos olímpicos, fazendo mesmo de Bad As Me o seu melhor momento desde Alice.