sexta-feira, novembro 18, 2011

Novas edições:
The Beach Boys, Smile


The Beach Boys
“Smile”

Capitol Records / EMI Music
5 / 5

O disco perdido é sempre o mais apetecido. Mas essa não é a única justificação para explicar o carácter mítico que fez de Smile o mais célebre dos discos perdidos da história da música popular. A história começa em 1966, na sequência do visionário Pet Sounds, álbum que só por si era já suficiente para inscrever os Beach Boys na galeria dos mais ilustres criadores da história da música pop. Mas Brian Wilson quis ir mais longe. E sonhou com aquilo que definiu como uma sinfonia juvenil para Deus. Chamou Van Dyke Parks para escrever as letras e, ao piano, começou a desenvolver ideias e a escrever canções. Os primeiros sinais do que poderia ser o som de um novo álbum ganharam forma em Good Vibrations. Usando as novas soluções ao alcance do estúdio de gravação como ferramenta de trabalho, Brian Wilson concebeu Good Vibrations como um puzzle onde se arrumava uma vastidão de acontecimentos, todo o processo envolvendo muitas e longas de estúdio álbum, os resultados incríveis das vendas do single calando os eventuais cépticos... E que tal fazer, então, todo um álbum nesse comprimento de onda. Brian Wilson arregaçou as mangas e meteu mãos à obra. O trabalho que imaginava era de um outro patamar de complexidade, obrigando a todo um trabalho de experiências e ensaios, caminhando para lá das fronteiras habituais da canção pop. Procurando caminhos, experimentando soluções.
O ambiente interno não ajudou, os primeiros sinais de oposição à ideia de Smile (assim se chamaria o álbum) nascendo entre o grupo. O desconforto desse clima, o sucessivo adiamento de prazos e o choque que foi o sentir que Strawberry Fields Forever, dos Beatles deixara em Brian Wilson a sensação de que os fab four haviam lá chegado primeiro são alguns dos grãos que foram, aos poucos, estragando a engrenagem. A dada altura a ansiedade ultrapassou os limites de tolerância e Smile, que já tinha capas feitas e data de lançamento anunciada, voltou para a gaveta. E ali ficou 44 anos... Não faltaram bootlegs com tentativas de reconstrução do álbum a partir dos elementos que entretanto acabaram usados noutros discos. Houve ainda, na última década, uma versão regravada de Smile, editada a solo pelo próprio Brian Wilson.
E agora, 44 anos depois, das sessões abandonadas em 1967 o grupo reconstrói o álbum. Smile confirma em tudo a visão de Brian Wilson e mora agora (mesmo no formato de álbum reconstruído, com peças ainda eventualmente incompletas) ao lado de Sgt. Peppers dos Beatles, Their Satanic Majesties Request dos Rolling Stones, Forever Changes dos Love, Piper At The Gates Of Dawn ou The Doors, dos Doors (entre outros mais, é verdade) como um dos grandes títulos representativos daquela etapa (o psicadelismo, naturalmente) em que a música ganhou cor e atingiu novos patamares. Smile junta a esses outros discos a assinatura dos Beach Boys nas elaboradas harmonias vocais, na luminosidade solarenga que abraça as canções, na amplitude impressionante de espaços que servem de palco aos acontecimentos que se sucedem. Smile é um monumento de ideias. Um colosso pop. E, 44 anos depois, o que estava perdido acaba encontrado, ao mercado surgindo várias edições (umas com mais gravações extra que outras, retratando a vastidão de ideias procuradas em estúdio) que surgem acompanhadas por textos, um deles assinado pelo próprio Brian Wilson que, assim, arruma de uma vez por todas o era uma vez de uma das histórias mais contadas da música popular.