domingo, novembro 06, 2011
Monteverdi, segundo Carl Orff
Duas obras de Carl Orff nascidas directamente de abordagens a composições de Monteverdi, em nova gravação pela Orquestra da Rádio de Munique e do Orpheus Chor München, sob direcção de Ulf Schirmer. Edição em CD pela CPO.
A ideia nasceu de um desafio lançado por um professor do então muito jovem Carl Orff (1895-1982). Dise-lhe que Orff era um homem do palco e que a sua música procurava essa noção de dramaturgia. Que fosse então estudar o primeiro dramaturgista da história da música. E foi assim que, em inícios dos anos 20, Carl Orff deu por si frente ao legado da obra de Claudio Monteverdi (1567-1643, a quem é atribuída a autoria de uma primeira obra reconhecível como ópera (com L’Orfeo, de 1607). Orff compreendeu em pouco tempo a sugestão do professor e na música de Monteverdi encontrou então vários pontos de identificação. “Encontrei uma música que me era tão familiar que parecia que a conhecia há muito tempo, como se tivesse apenas de a redescobrir”, recorda uma citação publicada num dos textos do booklet desta nova edição. Esta identificação conduziu Carf Orff a um confronto directo com a obra de Monteverdi, nela encontrando pontos de partida para uma série de trabalhos de recontextualização e adaptação, encontrando formas de expressar-se a si mesmo e ao seu tempo (e lugar) em três peças que apresentaria entre os anos 20 e 40. Orpheus (baseado em L’Orfeo) foi, em 1923, a primeira dessas incursões interventivas pela memória de Monteverdi, a obra conhecendo depois uma revisão em 1929 e nova intervenção em 1940. Seguiu-se Klage der Ariadne (que toma por ponto de partida Lamento d’Arianna) em 1929, revisto também em 1940. O tríptico terminando com Tanz der Spröden, (que parte de Ballo dell’Ingrate), criado em 1925 e revisto em 1941.
As duas primeiras partes deste tríptico surgem agora em nova gravação, que toma as versões de 1940 como base de trabalho. A música revela a presença evidente de formas do barroco, que Orff trabalha contudo num contexto aberto à presença de novos pontos de vista, em alguns instantes tacteando soluções (vocais e, sobretudo, instrumentais) que o fariam caminhar no sentido de uma linguagem muito pessoal com a qual projectaria obras maiores como Carmina Burana, Der Mond ou Catulli Carmina.