domingo, outubro 02, 2011

Pelo mundo de Steve Reich


Obras de Steve Reich em nova gravação pelo London Steve Reich Ensemble. Entre o alinhamento a estreia de Piano Counterpoint e uma nova gravação de Different Trains. Edição pela EMI Classics.

Não é uma extensão londrina do ensemble que, há largos anos, se responsabilizou pela exposição em primeira mão de muitas das obras do compositor. Mas é na verdade um grupo londrino que, sob a autorização de Steve Reich, dedica muito do seu trabalho à interpretação da sua música. Em 2007, pela CPO, o London Steve Reich Ensemble tinha já editado em disco uma série de gravações, entre as quais Piano Phase e o clássico Sextet. Agora, novo conjunto de gravações surgem no catálogo da EMI.

A peça central deste novo disco do London Steve Reich Ensemble é Different Trains, uma das primeiras peças com eventual leitura política da obra do compositor norte-americano. Peça de 1988 (premiada com um Grammy em 1990), Different Trains junta o trabalho de um quarteto de cordas a registos gravados em fita. Different Trains evoca memórias dos tempos da II Guerra Mundial, cruzando o universo particular de Steve Reich com factos do mundo real. Em concreto, estabelece um paralelo entre as viagens de comboio que o compositor então fazia entre as costas Leste e Oeste (num movimento pendular entre pais recentemente separados) e as que, ao mesmo tempo, mas na Europa, levavam milhares de pessoas para os campos de extermínio da Alemanha nazi. Usando entrevistas (captadas tanto na Europa como na América) como matéria prima (num processo em tudo semelhante ao que recentemente nos deu uma obra evocativa dos dez anos do 11 de Setembro), Steve Reich parte das palavras e dos seus sons para, através de diálogos com os instrumentos, criar uma obra que em tudo amplifica o sentido das memórias que convoca, gerando um momento que, em parte nascido de uma experiência particular, na verdade acaba por traduzir ecos de factos que são do conhecimento global. Esta não é contudo a primeira vez que Different Trains surge em disco, sendo de assinalar a memória da gravação (de estreia) que o compositor registou com o Kronos Quartet em disco lançado pela Nonesuch em 1990. De então para cá esta mesma obra teve outras leituras em disco pelo Smith Quartet (Signum, 2005), por músicos da Orchestre Nationale de Lyon (Naïve, 2008) ou pelo Duke Quartet (Decca, 2008).

Como complemento, o alinhamento do disco inclui ainda uma leitura do Triple Quartet e a estreia em disco de Piano Counterpoint (um novo arranjo criado a partir do célebre Six Pianos).