Wilco
“The Whole Love”
4 / 5
dBpm / Anti-
Há momentos numa obra discográfica que brilham de tal maneira (pelas qualidades da música, pelo momento em que o disco se relaciona com o contexto ao seu redor, pela forma como crítica e melómanos o elegem) que muitas vezes ofuscam os episódios que se seguem. Editado em 2002, garantindo então aos Wilco a ascensão a um patamar que deles fez um “caso” maior em cenário americana (com toda uma clássica genética eléctrica por perto), Yankee Hotel Foxtrot é ainda hoje paradigma pelo qual parece inevitável a comparação com todos os discos que desde então têm editado. The Whole Love não tem de fugir necesariamente à regra. Mas, mais que viver de um qualquer deve e haver face às memórias desse álbum magnífico, o novo (e oitavo) disco de originais do grupo chefiado por Jeff Tweedy vale antes como um momento de síntese. Onde os caminhos até aqui visitados se cruzam. E onde tudo (no universo Wilco, naturalmente) parece possível. The Whole Love é assim, sem que o seja segundo uma qualquer orden científica, um olhar conjunto sobre espaços que o grupo domina, a surpresa acontecendo a cada tema que se segue, de incursões pelas genéticas americana (em Open Mind, por exemplo) o disco avançando por caminhos que traduzem ecos da história da música eléctrica (ora em I Might, ou, sob arestas mais cruas, mas com sensibilidade melodista, em Born Alone), piscando até o olho aos Beatles nesse momento maior do alinhamento que se escuta em Sunloathe ou no mui McCartneyesco Capitol City… Tudo isto mais uma abertura desafiante nas formas em Art of Almost e um epólogo longo, em manobras repetitivas, no viciante One Sunday Morning. Houve já quem tenha comparado esta “imprevisibilidade” de caminhos e formas aos rumos igualmente surpreendentes que vamos descobrindo ao avançar pelo alinhamento do clássico “álbum branco” dos Beatles… Talvez não repita o momento (nem a colecção de canções) que fez história em 1968. Mas é certamente, como o fazia esse disco, um retrato de uma banda que não podemos reduzir a um rótulo à boa maneira de um Lineu. É que é da multiplicidade de caminhos que se afirma aqui a vitalidade de uma banda que não se esgotou em Yankee Hotel Foxtrot. E que se mantém como um dos casos mais interessantes entre os ainda activos dos nomes nascidos em cenário “alternativo” na América dos noventas.