Neon Indian
“Era Extraña”
Transgressive Records
3 / 5
Há quem possa pensar que a pop talhada por instrumentos electrónicos é coisa, se não necessariamente festiva, pelo menos luminosa o será... Mas por muita luz e cor que se cante desde que, em finais dos setentas, as electrónicas se tornaram das melhores amigas da canção pop, a verdade é que não têm faltado almas doridas que, com as mesmas ferramentas, mostram antes climas sombrios, magoados, até mesmo de isolamento e fuga. Neon Indian é nome a juntar a esta última família. E, mesmo tendo já somado, aqui ou ali, um momento de optimismo na forma de canções, a sua música parece antes procurar outros caminhos. E, mais que em Psychic Chams (o seu álbum de estreia), Era Extraña mostra sinais de uma etapa vivida longe de espaços de conforto. Não em clima de neura cantada aos sete ventos (já por aí há quem o faça), antes reflectindo a música sinais de momentos de desencanto que, mais que procurar o carpir de mágoas, parecem antes promover um encontro temporário, com uma certa paz, com um espaço de alguma solidão. Com efeito, este natural do Texas (e de genética mexicana) partiu só para Helsínquia (Finlândia) onde, no último Inverno, talhou e gravou as canções que agora fazem o alinhamento do seu segundo álbum de originais. Esta é um a música que vive entre ocasionais citações a formas e registos sonoros com 30 anos, não procurando contudo uma revisitação de modelos (como o fazem tantos e tantos duplicadores de ecos dos oitentas), antes integrando ideias num espaço onde a voz mergulha inclusivamente entre os acontecimentos ao seu redor, tal e qual um filme integra uma personagem num espaço. O disco, mesmo não procurando uma lógica conceptual, tem uma estrutura interna arrumada por um trio de instantes instrumentais, entre si surgindo canções que ora olham mais de perto as suas heranças pop - como se escuta em Polish Girl ou no algo açucarado Halogen (I Could Be a Shadow) - , outros havendo que integram outras referências, nomeadamente uma carga shoegazer que se manifesta logo em The Blindside Kiss ou os efeitos que sublinham uma relação com sons da era dos videojogos em Future Sick. Há um desencanto que mora firme ao longo de um disco que não promete encantamento fácil a quem o escuta. Pede Trabalho e atenção. Guarda segredos que, aos poucos, revelam camadas de acontecimentos secundários... Há quem goste muito de usar nomes e lhe chame coisa chillwave... Prefiro antes reconhecer aqui um espírito capaz de repensar ferramentas e linguagens pop, moldando-as a um estado de alma que acaba por ter muito a ver com os tempos que correm. Poderá não ser uma das mais marcantes bandas sonoras de 2011, mas Era Extraña é disco que sabe cativar aos poucos e que vale a pena ouvir.