segunda-feira, outubro 24, 2011

DocLisboa 2011 (dia 5)


Praça Tahrir, Cairo... Ali moram algumas das imagens que os turistas que visitam o Egipto certamente levam nos cartões de memória das suas máquinas fotográficas, o Museu Egípcio, de paredes entre o rosa escuro e o salmão a constituir uma das raras paragens certas em roteiros que passam mais vezes pelos lados do planalto de Gizé, Sakara, Luxor ou Assuão... Mas desde há alguns meses esta mesma grande praça no centro dop Cairo ganhou outro peso, inclusivamente na relação com os que ali não vivem. Foi dali que, dias a fio, chegaram imagens (e notícias) de uma sublevação popular que acabaria por conduzir à queda de Mubarak.

Na verdade esta não foi a primeira vez que aquele lugar acolheu sinais de uma revolução. Assim foi em 1919, o seu nome mudando oficialmente pra acolher esta designação (Praça da revolução) em 1952, aquando da mudança de regime. É da segunda revolução, que ali ganhou expressão visível (e mediática) este ano, que dá conta Tahrir – Liberation Square, filme de Stefano Savona Que hoje passa no Cinema  São Jorge pelas 22.00 horas. De origem italiana, o realizador ali chegou ao sexto dia de levantamento popular, parecendo desde logo que o que ali ganhava forma não era uma mera manifestação de protesto (como as de 1977 ou 2003 naquele mesmo lugar)... Havia ali manifestantes desde o dia 25 de Janeiro. Eram perto de 50 mil, o número duplicando em quatro dias, continuando a aumentar nos dias seguintes. Imagens levavam os protestos aos ecrãs em casa de gente pelo mundo fora. O que Stefano Savona Agora nos mostra é como foi viver, por dentro, os 18 dias de uma manifestação popular que teve a força suficiente para afastar um presidente do poder. Entre os manifestantes, a câmara observa, como se fosse os olhos e os ouvidos de alguém que seria assim mais um entre tantos. Sentimos a puslão de resistência e combate nas vozes dos que se explicam em conversas entre si. Debata-se o presente, discute-se o futuro. Luta-se (literalmente) quando a violência estala e as pedras do chão são a única arma por perto.

Cinematograficamente não será o mais arrebatador dos olhares sobre um levantamento popular. Mas, com uma fotografia cuidada (na medida possível) e uma capacidade para deixar que os acontecimentos falem por si, Tahrir - Liberation Square leva-nos aqueles dias e aquele lugar. A realidade, com um ponto de vista de quem ali a olhou e registou. E que mostram que há gente, entusiasmo, revolta e ideias onde, na maior parte das vezes, as reportagens em directo pela televisão muitas vezes pouco mais mostravam que planos aéreos (ou à altura de varandas altas) de muita gente junta num espaço comum sob uma causa conjunta. Porque, além das causas, há os que delas fazem o que elas são: motores de mudança. Uma revolução com gente dentro, portanto.

Podem ver aqui a restante programação para o dia de hoje.