sábado, outubro 08, 2011

Mês Tintin / Spielberg (8):
Pela filmografia de Spielberg - 1977


Em mês dedicado a Tintin, no momento em que estamos já em contagem descrescente para a estreia entre nós da nova adaptação ao cinema das suas aventuras por Steven Spielberg, vamos recordar aqui também alguns títulos da obra do cineasta americano. E como escolher? Nada mais simples: pedindo a quem escreve que fale sobre o seu filme preferido da obra de Spielberg. Começo eu para dar o exemplo... Com os Encontros Imediatos de Terceiro Grau, de 1977.


Acho que foi o primeiro filme de Spielberg que vi. Sabia de um Tubarão de que se falara pouco antes, mas ainda sem dez anos de velas sopradas, esperei mais algum tempo para o ver... Mas tinha uns dez (ou onze) anos quando os ovnis de Spielberg chegaram ao cinema. Falava-se já de ovnis mesmo antes do filme. Num Portugal em que a verborreia politizada do pós-revolução começava a acalmar e novos assuntos surgiam no horizonte, os “mistérios” do nosso tempo faziam vender livros. E os ovnis (ou seja, os “objectos voadores não identificados”) lá moravam entre os assuntos novos de que se falava. Porque o homem precisa de medos para dar sal ao ritmo mais repetitivo do quotidiano, as visitas dos extra-terrestres encontravam terreno fértil entre conversas. Lembro-me que havia livros sobre ocultismo, mais as séries de Arthur C Clarke e outros campos do “desconhecido” a ajudar à festa entre finais dos setentas e inícios dos oitentas... Tudo para viver medos de ficção, numa altura em que o medo real era mesmo o da guerra fria e da ameaça de uma eventual guerra nuclear entre os dois grandes blocos...

Já tinha havido extra-terrestres no cinema. De resto, desde Voyage dans La Lune, de Meilès (o primeiro filme de ficção-científica, datado de 1902), que os ecrãs de cinema conheciam alienígenas, uns simpáticos, outros nem por isso... Mas o cartaz de Encontros Imediatos do Terceiro Grau apostava numa frase que cativou desde logo atenções, afirmando “não estamos sós”...



Steven Spielberg estava já longe de ser um iniciado em 1977. Somava já algumas longas-metragens no currículo e com Tubarão (1975) tinha conhecido o seu primeiro sucesso global. Mas é aqui que dá “o” salto. Produção de grandes dimensões, o filme lança as bases do “encontro” através de uma série de incidentes assinalados pelo mundo fora, de uma casa rural americana a uma aldeia interior na Índia, do deserto de Gobi ao desencanto de paisagens varridas pelo vento no México. Uma equipa de cientistas vai recolhendo dados, sob a orientação de um professor francês (interpretado por François Truffaut). O filme centra contudo a sua atenção em dois núcleos familiares (secundarizando o plano em que cientistas e militares preparam a chegada anunciada dos extra-terrestres)... É aqui que Spielberg semeia as marcas da sua identidade (que não se esgota portanto na forma de olhar as imagens, pensar os enquadramentos e as suas tão características movimentações de câmara), aprofundando a caracterização de personagens, escutando (como o fará várias vezes) as dinâmicas de famílias desagregadas.

Outra das marcas que fazem deste um filme único deve-se (além do belíssimo trabalho de efeitos visuais na sequência final) deve-se ao protagonismo com que Spielberg encarou a presença da música do filme. Não apenas numa das mais belas criações de John Williams para o seu cinema, mas através da sua utilização como forma de linguagem que faz do encontro “de terceiro grau” com os extra-terrestres um momento de partilha de civilizações inteligentes.



Imagens do trailer da edição comemorativa dos 30 anos do filme