segunda-feira, outubro 17, 2011
Cenas de um medo do nosso tempo
Depois dos últimos surtos de pânico global (a gripe A ainda mora na memória recente de todos nós), Contágio parecia ter todos os argumentos para se afirmar como um dos momentos maiores do mapa de estreias de 2011. Um elenco impressionante, a certeza da performance de um bom realizador, e uma narrativa atenta ao “medo” que, como um dos cartazes promocionais tão bem explora, é afinal a realidade que se contagia e propaga mais depressa.
Assinado por Steven Soderbergh, e com uma verdadeira artilharia de nomes de primeiro plano no elenco (onde encontramos Kate Winslet, Gwyneth Paltrow, Matt Damon, Jude Law, Marion Cotillard e Lawrence Fishburne), Contágio relata o eclodir de uma epidemia súbita que rapidamente se propaga pelo mundo fora espalhando, além da doença o medo pelo contágio. Acompanhamos os primeiros casos, identificamos numa dimensão familiar os momentos de contágio, reparamos quão grandes são as cidades onde ocorrem, sentimos a dimensão (e velocidade) da propagação da epidemia. Ao mesmo tempo observamos quem a tenta identificar, estudar e combater. Assim como estamos nos bastidores onde se decide o que se revela ou não porque, além do vírus, o medo é outra realidade à solta.
Contágio doseia bem todos estes elementos. É realista no plano científico, do modo como atenta a factos do dia a dia (como quando nos diz que tocamos no rosto umas duas mil vezes por ano) como quando observa os que tentam identificar e combater o vírus. Mas depois, mesmo dando conta da forma como um medo maior pode romper as regras mais básicas da vida em sociedade, o filme podia ir um pouco mais longe na forma como observa o modo como os media acompanham estes acontecimentos. Não apenas os espaços de jornalismo, como os que através de bloggers e utentes de redes sociais, vivem o disseminar da informação nos dias de hoje. E note-se que fica algo aquém das suas potencialidades a figura do blogger, interpretado por Jude Law, que começa por tropeçar no lugar-comum do rejeitado pelos media “convencionais” e embarca numa missão pela “verdade” que lhe valem 12 milhões de seguidores, mas na verdade diminuta expressão no quadro da acção.