Tori Amos
“Night of the Hunters”
Deutsche Grammophon
4 / 5
A ideia de criar um ciclo de canções, que entre si definem um ciclo narrativo, não será novidade para Tori Amos. Foi contudo como um desafio que nasceu o convite lançado pela editora Deutsche Grammophon à cantora norte-americana. A ideia era a de criar um ciclo de canções para o século XXI. E assim surgiu Night Of The Hunters, disco que não só define uma história (em concreto retrata o fim de uma relação) como a molda a uma sucessão de temas, cada qual tendo por inspiração uma obra de um compositor de referencia. De várias latitudes e épocas, a recolha destas referencias junta assim como matéria prima musical para este ciclo os nomes de compositores como Granados, Satie, Chopin, Schubert, Mendelssohn, Bach ou Debussy. Daí, e com arranjos de John Philip Shenale (colaborador que a acompanha desde semore), parte para a construção de um elegante percurso que a voz, numa relação sobretudo próxima com o piano, serve como protagonista. Uma vez mais voltam a fazer sentido antigas comparações com Kate Bush, mas com os anos Tori Amos vincou marcas de uma voz própria que aqui conhece o seu melhor disco em vários anos. Night Of The Hunters é assim mais um episódio numa história de diálogos entre os espaços da pop e as linguagens (e meios) da música clássica que têm gerado alguns dos mais interessantes discos dos últimos anos. Não terá a ousadia formal de um He Poos Clouds de Owen Pallett (via Final Fantasy) nem a visão de um Age of Adz de Sufjan Stevens. Mas mostra mais uma interessante operação “pop” por parte da Deutche Grammophon. E abre novos e desafiantes caminhos a Tori Amos (que parte agora para a estrada com um quarteto de cordas para recriar estas canções).