domingo, setembro 25, 2011

Queer Lisboa: 15 anos / 15 filmes (11)


Terminou ontem a 15ª edição do Queer Lisboa. Antes mesmo de apresentarmos os vencedores das secções competitivas, deixamos mais uma recordação de um filme que passou pelo festival.

É certo que o cinema de Bruce LaBruce já havia ensaiado experiências com firme condução narrativa. Mas Otto: Up With Dead People revelou um novo patamar de entendimento (bem sucedido, sublinhe-se) entre a vontade de contar uma história, o gosto de experimentar soluções visuais, um já conhecido interesse pela expressão de uma linguagem “explícita”, uma mais intensa relação com a música e uma pulsão de sátira que cruza todo o filme. História de um filme dentro de um filme, Otto: Or Up With Dead People fala-nos de um tempo onde vivos e zombies partilham o espaço, as situações de bullying e perseguição sendo desde logo um foco para a criação de uma parábola sobre o preconceito e a discriminação. Mas esse é apenas o pano de fundo para um filme que, na verdade, procura sobretudo, na relação de trabalho do jovem zombie Otto com uma exuberante e realizadora de cinema, uma série de instantes de incisiva crítica não apenas a costumes da sociedade do nosso tempo mas também às próprias linguagens e demandas do cinema, parodiando mesmo a forma como por vezes expressa ideologias ou visões políticas. Cereja sobre o bolo de um filme inteligentemente subversivo, a banda sonora de Otto vive entre a descoberta de novos talentos (como os The Homphones) ou a presença de ícones indie (como Anthony & The Johnsons ou as CocoRosie). O filme passou no Queer Lisboa 12, em 2008.

Podem ver aqui o trailer do filme.


O filme Rosa Morena, de Carlos Oliveira, venceu o prémio de Melhor Longa Metragem de Ficção do Queer Lisboa 15. Composto pelos actores Beatriz Batarda, Albano Jerónimo e pelo editor Sam Ashby, o júri disse que escolher "foi muito difícil, mas acabámos por decidir reconhecer o filme que mais nos desafiou e que levantou o maior número de complexas questões morais", justificando a decisão descrevendo Rosa Morena como "o corajoso e honesto retrato da luta desesperada e, por vezes perigosa, de um homem gay pelo seu direito a ser pai, tendo como pano de fundo o extraordinário cenário das favelas de São Paulo". O mesmo júri apontou como Melhor Actor o chileno Roberto Farias pela sua interpretação em Mi Último Round, de Julio Jorquera e, como Melhor Actriz, a alemã Corinna Harfouch pelo seu trabalho em Auf der Suche, de Jan Kurger.
O júri para o prémio de Melhor Documentário (constituído pelo realizador Miguel Gonçalves Mendes, a programadora Claudia Mauti e Franck Finance-Madureira, responsável pela Queer Palm, em Cannes) escolheu como vencedor I Am, da indiana Sonali Gulati, descrevendo-o como "um filme forte e ao mesmo tempo tocante, numa história relatada de um modo pessoal que, começando na relação da realizadora com a sua mãe, se torna num retrato político e social de um país".
O prémio para Melhor Curta Metragem, atribuído pelo público, distinguiu o filme brasileiro Eu Não Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro.