segunda-feira, setembro 19, 2011

Novas edições:
St. Vincent, Strange Mercy


St Vincent 
“Strange Mercy” 
4AD Records 
4 / 5 

Os caminhos pelos quais um músico desenha o seu percurso não se fazem por vezes por estradas principais. E, quando tudo poderia indicar a entrada numa via rápida, St Vincent (nome atrás do qual se guarda a figura de Annie Clark) opta antes por virar para um mais desafiante roteiro. Não procurando atalhos, mas enfrentando o terreno pela frente e, mesmo de mapa na mão, saboreando a descoberta do que a cada curva o seu trajecto possa sugerir. Depois de respeitada estreia em Marry Me (2007), St Vincent viu o álbum Actor ser (merecidamente) apontado como um dos acontecimentos maiores de 2009. Podendo manter os azimutes que então sugeria pela frente (ou seja, cruzando essencialmente uma visão indie pop com a presença de orquestrações elegantes e elaboradas), eis que surge, dois anos depois, com um disco que mostra antes uma ousada opção por uma mais intensa relação com a vontade de experimentar. Sabendo-se que em tempos integrou a banda de palco de Sufjan Stevens e em palco acompanhou ainda nomes como os Grizzly Bear ou Xiu Xiu, compreende-se desde logo que todo um quadro de estímulos há muito moram em seu redor. Em Strange Mercy encontramos uma mais marcada presença das guitarras, uma angulosidade mais evidente nas formas, uma arquitectura rítmica menos polida, mas sem que tal contrarie uma escrita de canções que mantém viva uma ideia de elegância (que a voz tão bem interpreta), aprofundando depois a carga dos sentidos das palavras, vincando mais profundamente uma inquietude que nos obriga a regressar a esta música vezes sem conta. Strange Mercy é daqueles discos que intriga. Que guarda em si um mundo que não se revela logo, que obriga ao reencontro, ao esforço do ouvinte. Espaço de descoberta não apenas para o músico, mas também para quem agora o escuta, este é um disco que sabe que tem algo para nos dar. Haja disponibilidade. Porque vai valer a pena.