The Rapture
“In The Grace Of Your Love”
DFA Records
4 / 5
Não tiveram o impacte global de uns LCD Soundsystem, mas aos The Rapture devemos apontar igualmente marcante percurso de convergência entre referencias pós-punk de finais de 70 e inícios de 80 e toda uma arquitectura rítmica escutada por caminhos da música de dança que abaria por desencadear importantes descendências entre tantos outros nomes na década dos zeros. Echoes (2003) foi um disco determinante no processo de redescoberta de uma pulsão dançante num quadro rock’n’roll (tal como uns valentes anos antes o haviam feito bandas como os Stone Roses ou Happy Mondays, porém sob convocação de outros ingredientes). Seguiu-se ainda, em 2006, Pieces of the People We Love. E depois um silêncio que agora rompem ao som de In The Grace Of Your Love um álbum que vive de reencontros (com a DFA Records, onde deram importantes passos e com um interesse evidente pelos ritmos de dança) e que na essência parece descobrir o prazer do desenho de canções que piscam o olho a uma pop para apetites mais gourmet (escute-se a discreta luminosidade de um Roller Coaster, por exemplo). Ainda por aqui sentimos ecos de algumas genéticas que definiram a alma inquieta dos primeiros discos da banda (de uns Talking Heads aos XTC, a face Gang of Four mostrando-se contudo de arestas mais polidas), o som revelando porém menos angulosidades, a voz irrequieta de Luke Jenner adaptando-se a quadros onde guitarras, programações e batidas encontram um entendimento mais arrumado. São ainda evidentes os instantes de bom relacionamento com a club culture, ecos de escolas house passando, depurados, pelo entusiasmante Come Back To Me. Munidos de uma bela carteira de ingredientes e um sentido apurado de gestão dos sabores, os The Rapture juntam o útil ao agradável. Ou seja, encontram uma mão cheia de belas canções para fazer de In The Grace Of Your Love o mais delicioso dos seus álbuns. Poderá não ter o sentido histórico que o pioneirismo de Echoes naturalmente registou na história da década dos zeros. Mas mostra, neste reencontro, que a banda (reduzuida a três elementos depois da saída do baixista Mattie Safer) soube encontrar um novo destino depois dos caminhos pelos quais caminhou na década dos zeros.