quinta-feira, setembro 29, 2011
Histórias de um outro Brasil
Passou na edição de 2010 da Berlinale e logo aí chamou atenções. Agora chega aos ecrãs nacionais para nos confirmar que, ao contrário de certas fáceis ideias feitas, o cinema brasileiro do nosso tempo não vive apenas de retratos de vidas entre favelas. Mais distante, de resto, não podia estar a realidade de que trata Os Famosos e os Duendes da Morte (estreia hoje nas salas portuguesas). Primeira longa metragem de Esmir Filho (de quem o Queer Lisboa apresentou já a curta Alguma Coisa Assim e autor do pequeno filme Tapa na Pantera que virou sucesso na Internet), o filme transporta-nos para um Brasil de que pouco se fala por estes lados. Em concreto ruma a uma pequena povoação no Rio Grande do Sul, longe do calor, do sol, das praias... Longe de tudo. E é pela Intertnet que os mais novos que habitam aquela vila, essencialmente nascida de colonos alemães que ali chegaram há algumas décadas. Trocando fotos, falando em chats, ensaiando uma proximidade virtual, tentam disfarçar uma solidão que vivem mesmo em terra povoada.
Um deles, que assina online como Mr Tambourine Man (interpretado pelo estreante Henrique Larré) não parece ter senão um objectivo: sair dali. Nem que, por um dia, para ver um concerto de Bob Dylan Criado em conjunto com um texto que ao mesmo tempo ia sendo redigido por Ismael Canepelle (natural daquela região e autor já publicado), o filme toma ainda como peça central da sua identidade uma relação com a morte. Que se manifesta sobretudo através da ausência de uma amiga que se suicidou atirando-se da ponte metálica que habita na orla da povoação, e da qual restam imagens (fotos e filmes) na Internet...
Com um ritmo tranquilo, alma poética e uma fotografia que mostra interesses por vezes no limiar de um certo cinema experimental, Os Famos e os Duendes da Morte é um interessante retrato de um confronto de atitudes perante a vida que podem habitar num mesmo espaço. Entre os mais velhos, que integraram rotinas e rodopiam ao som de música nas festas anuais da região, e os mais novos, que vivem a urgência de outras experiências (e de fuga), o filme de Esmir Filho olha realidades de um outro Brasil do qual poucas vezes se fala. Mas que também existe.
Imagens do trailer do filme