sábado, setembro 24, 2011

Mês Björk (24):
Na era do "techno voodoo"


Timbaland, Antony e Toumani Diabaté são alguns dos convidados num disco que cruza electrónicas com temperos tribais. Como sempre, desafiante e longe da unanimidade. Este texto foi publicado no DN a 4 de Maio de 2007 com o título "A nova aventura tribal da islandesa digital".

Não é por acaso que este era um dos mais esperados discos do ano. Com estatuto de "estrela" depois da vitória em Cannes com Dancer In The Dark, com inquieto perfil de "bizarra" entretanto sublinhado pelas opções artísticas mais recentes (ou seja, a gravação de um álbum exclusivamente vocal em Medúlla e a colaboração no mais recente filme do marido Matthew Barney), a islandesa divide hoje opiniões como poucos no universo da música pop de costela mais alternativa. Volta, o novo álbum, reconcilia Björk com os instrumentos, com a canção, com regras formais que já visitou em discos anteriores. Mas, como sempre, está longe de ser um disco unânime.

Apesar das já conhecidas marcas de personalidade (sobretudo certos maneirismos vocais que, é sabido, são justificada fonte de muito do cansaço de que alguns se queixam ao escutá-la), Björk compreendeu que a necessidade de mudança na sua música pasava pelo desafio a novos colaboradores. E, de facto, não faltam. Do cada vez mais aclamado (e sobrexposto) produtor Timbaland a Antony (com quem partilha dois duetos), da chinesa Min Xiao-Ben ao malinense Toumani Diabaté, as presenças reflectem desejos de novos horizontes, importando para a sua música marcas de outras paragens sonoras e geográficas. Repetente o velho parceiro Marc Bell assegura uma inabalável relação com as electrónicas.

Björk já descreveu o som de Volta como "techno voodoo" e usa frequentemente expressões como "pagão", "tribal" e "extrovertido" para descrever um álbum onde uma música digital do século XXI se cruza com laivos de jazz, música chinesa e percussões africanas. Menos volátil que Medúlla, o álbum revela reflexões sobre política (concretamente fala de bombistas suicidas), o mundo e as viagens, a fé. E dedica particular atenção à maternidade, ora comentando, em jeito de acto de contrição, eventuais erros na educação do filho mais velho, ora projectando no futuro a linha de vida que imagina para a mais nova. Earth Intruders, talvez o seu mais cativante single desde All Is Full Of Love (1999), está longe de se revelar um "êxito" como muitos que somou no passado.

O cartão de visita, Earth Intruders, cativou ao assinalar um reencontro com a eficácia pop dos dias de Post, mas com tempero tribal a sublinhar a diferença. Volta, depois, mantém essa dupla personalidade, entre a citação do passado e novos desafios, da libertinagem noise de Declare Independence à placidez textural com contaminação world em diversos outros instantes. É um álbum de ousadia e risco (como sempre), mas de mais vontades que concretizações, de mais ideias que canções. O melhor é servido pelos colaboradores, seja na eficácia pop de Innocence, seja nos sublimes duetos com Antony que, em última análise, deixam claro que o que já não conquista em Björk é uma voz assombrada por maneirismos exaustos.