É com um espanto, mesclado de ternura e tristeza, que redescobrimos as imagens de Marilyn Monroe (1926-1962) obtidas em 1946 por Joseph Jasgur. Cerca de dois anos passados sobre a morte do fotógrafo (faleceu a 21 de Março de 2009, dois dias antes de completar 90 anos), algumas dessas imagens são notícia, já que vão ser leiloadas pela firma Julien's Auctions (das que aqui se reproduzem, apenas a segunda a contar de baixo integra o leilão).
Para além de nos remeterem para uma época pré-Marilyn – quem vemos usa ainda o nome Norma Jean –, as fotografias reflectem uma candura pré-Hollywood (e o verbo "reflectir" carrega toda uma magoada nostalgia poética). É algo que envolve as imperfeições de uma pose ainda distante das subtilezas do glamour e, por isso mesmo, insolitamente realista. Como se apenas pudéssemos celebrar a sedução do logro ontológico: ser Marilyn seria um destino, quer dizer, uma magia que começou a derramar-se num tempo mítico e imponderável, antes mesmo de ter o nome com que agora reconhecemos a sua herança.