Jazz "à portuguesa"? Sim, sem dúvida, quanto mais não seja pela chancela editorial e... pelos músicos: o líder e compositor André Carvalho (contrabaixo), Zé Maria (saxofone), Filipe Melo (piano), João Rijo (bateria) e ainda, numa faixa, Mariana Norton (voz). Mas jazz também genuinamente universal, porque nascido nessa encruzilhada sempre fascinante entre as certezas da tradição e as incertezas que a sua releitura atrai – porque, afinal, nunca vemos/ouvimos as experiências dos outros coincidindo com a percepção dos próprios protagonistas originais. Dito de forma mais crua: Hajime não acumula tiques experimentais apenas para fingir que está "mais à frente" do que aquilo que, realmente, quer estar. Até porque, como dizia a provocação herdada de Maio 68, a coragem também pode ser ficar em casa... Música para o lar, enfim, se entendermos que a casa é aqui um labirinto de gostos e heranças jazzísticas que se encontram no mesmo respeito pela especificidade de cada instrumento, a ponto de, por vezes, sentirmos que estamos a escutar vários solos simultâneos... Para que a metáfora seja completa, lembremos a informação que o CD contém: "hajime" é a palavra japonesa que significa "começar", usada em particular nas artes marciais. A reter: Hajime traz a chancela da Toap Records, uma editora que vale a pena conhecer.
>>> Este é um registo de uma das faixas de Hajime (À Margem de Binómios), com os músicos indicados, excepto no saxofone, desta vez entregue a Jorge Reis.