Divertimo-nos com os anedóticos "tabus" dos políticos que, em boa verdade, confundem a falta de informação com a fronteira do indizível... Eles brincam com isso, diluindo-se no seu próprio discurso público, e nós aceitamos a brincadeira (tanto pior para nós). Em todo o caso, há mesmo tabus que o universo mediático alimenta de forma sistemática. Um deles é o envelhecimento, quase sempre encenado como uma grosseira degradação para a qual importa não olhar. Daí os muitos protocolos de abordagem da passagem dos anos pelos mais célebres, incluindo o patético "sou jovem por dentro" de alguns famosos (?) da nossa praça.
Madonna está a envelhecer assim [foto a preto e branco, aqui em baixo, na apresentação do filme W.E. no Festival de Toronto]. Por certo com alguma revolta, tecida de lucidez, vai expondo a transparência cândida dos seus 53 anos, ironicamente refazendo toda uma iconografia de uma das suas referências de sempre: Joan Crawford [escusado será dizer que não é apenas o cão que aproxima as duas imagens de cima, recolhidas em Boy Culture].
É um processo que está para além das meras rimas visuais que, com mais ou menos ironia, possamos nomear. É sobretudo algo que passa pela exposição de um misto de vulnerabilidade e agressividade que marcou também o segundo acto da vida e dos filmes de Crawford [o fotograma em baixo tornou-se uma quase "imagem de marca", pertencendo a Sudden Fear/Medo Súbito, de 1952, tinha Crawford 47 anos]. Não é seguro que contemplando o rosto vejamos a alma. Mas algo da sua resistência ou, se preferirem, do seu laborioso artesanato vai sendo escrito no cansaço dos olhos e na amargura do sorriso. She's not me.