Pneu tem um título objectivo. Que é como quem diz: é um filme sobre um... pneu. Para mais, o dito pneu justifica todo o protagonismo porque é ele, de facto, que comanda a acção: deambula pelo mundo, tem opiniões contundentes sobre tudo e todos e, quando não gosta de alguém, manifesta instintos assassinos...
Será que o conto do absurdo ainda é uma forma viável? Mais do que nunca, apetece dizer. Se a televisão nos esmaga a inteligência, todos os dias, com as mais grosseiras desumanidades, qual é o problema de fazer um filme sobre um pneu?
Talvez falte ao realizador Quentin Dupieux (Mr. Oizo na sua encarnação musical) o distanciamento e a frieza para conferir à sua deliciosa anedota a dimensão de uma verdadeira tragédia, mesmo satírica. Em todo o caso, o seu filme é um saudável objecto “não-alinhado” – entre nós, pouco depois das salas, já está disponível em DVD.