1 - Entre outras agressões e obscenidades, a publicidade de rua da nova edição da Casa dos Segredos (TVI) está a utilizar um cartaz em que alguém, supostamente um concorrente, faz saber que teve “um caso com um ministro”. Dito de outro modo: em nome do divertimento, continua a promover-se a grosseria e o vazio mental, formatando-se as sensibilidades da população com uma pornografia de palavras e imagens que reduz o factor humano a coisa ridícula, irrelevante, sempre descartável.
2 - É aqui que estão as grandes questões culturais, mais do que na passagem de obras-primas do cinema (e não só) com bolinha vermelha no canto do ecrã... Aos moralistas que se chocam cada vez que a televisão difunde algo de genuinamente adulto, vale a pena colocar uma questão muito cândida: como encaram o facto de uma criança (qualquer uma) deparar com cartazes e máximas deste teor a poluir o seu quotidiano visual?
3 - O facto só pode produzir mais miséria televisiva e cultural – hoje em dia, aliás, uma coisa tende a confundir-se com a outra. A não ser que, por uma vez, algum ministro (ou qualquer outra personalidade política, do governo ou da oposição) tenha a coragem básica de nomear o horror de tudo isto. Aí sim, começaríamos a ter alguma vitalidade cultural. E social.