808 State
“Blueprint – The Best of 808 State”
Salvo
4 / 5
A recta final dos oitentas e a primeira etapa dos noventas assistiu ao florescimento de uma nova forma de relacionamento de músicos na área das electrónicas (e da chamada música de dança) com o seu público. Uma das principais novidades em cena ganhou forma no modo como o que antes era coisa (quase) anónima para dançar em discoteca (e pouco mais), eventualmente gerando um single de sucesso, se transformou num regime mais próximo do que fazia o quotidiano de bandas pop/rock, as bandas/músicos ganhando um rosto, um nome, o seu público procurando os seus álbuns, as suas carreiras ganhando forma disco após disco, isto sem esquecer a passagem pelos palcos. Juntamente com nomes como os The Orb, Orbital ou Fluke, os 808 State são referência marcante desse tempo. Na verdade são mesmo contemporâneos da génese de toda essa revolução, os seus primeiros passos ensaiando um relacionamento com as formas acid house, com o tempo evoluindo rumo à exploração de uma outra demanda, mais dada às horas de fim de noite, via ambiente house (em Pacific State tendo mesmo talhado um dos paradigmas do movimento), partindo depois rumo a novas aventuras ritmicamente mais insistentes. Blueprint – The Best of 808 State oferece um percurso através de várias etapas na vida deste projecto nascido em Manchester em finais dos oitentas e rapidamente projectado globalmente como um dos casos maiores da música electrónica nos primeiros tempos dos noventas. Dos caminhos fundadores dos espaços ambiente house ao talhar de ideias que ajudaram a definir o trance, muitas vezes trabalhando peças instrumentais como se fossem canções, ocasionalmente chamando vozes (como as de Björk ou James Dean Bradfield, dos Manic Street Preachers), os 808 State foram uma força sobretudo visionaria entre 1989 e 1993. Ou seja, entre os tempos de Pacific State – e do EP Quadrastate – e os olhares sobre as formas da composição electrónica ao serviço da dança (mas com alma de autor) por alturas do lançamento de Gorgeous, álbum de 1993 A nova antologia cruza “clássicos” nas suas versões originais com algumas remisturas, junta instrumentais a canções. Recolhe os episódios-chave e sabe, por vezes, surpreender (como quando, ao recordar as colaborações com Björk apresenta Qmart em vez do single Ooops). Vinte anos depois, alguma desta música carrega inevitavelmente marcas do tempo em que surgiu. Mas, e como sucede quando contamos uma história, recorda episódios de um percurso que foi central na afirmação dessa nova relação com as electrónicas que então ganhava forma.