Andrea Booher/ FEMA News Photo |
E depois do conjunto de memórias na primeira pessoa que lemos no domingo, olhares sobre o 11 de Setembro vindos de outras latitudes. Hoje num ponto de vista que chega de Oslo, na Noruega.
Daniel Barradas
(Oslo, Noruega)
Eu nasci em 1973, nunca conheci a ditadura, cresci com todo o optimismo dos anos 80 e amadureci durante os prósperos anos 90. O século XXI inaugurava-se comigo a viver em Oslo, na Noruega e a trabalhar numa empresa multinacional de projectos de internet.
No dia 11 de Setembro de 2001 tinha um programa de chat ligado no computador e um amigo de Washington apareceu online e escreveu em maiusculas: LIGA A TELEVISÃO IMEDIATAMENTE! O PENTÁGANO ESTÀ A SER ATACADO!! Não era bem assim, mas não importa. Pela internet liguei à transmissão em directo da NRK, o canal nacional norueguês e vi as imagens que mudaram o mundo.
O dia foi passado em incertezas. Era uma nova guerra? A embaixada dos EUA era a 100 metros do meu escritório. Ficou imediatamente rodeada de Polícia. Nas semanas seguintes havia mares de flores à sua volta e até hoje, 11 anos depois continua a ter um contentor em frente que serve para vigia policial norueguesa adicional à da embaixada. Depois do choque, da incompreensão, veio aquela espécie de alívio: eu não conhecia nenhuma das vitimas ou dos seus familiares. Eu nunca estive em Nova Iorque. Eu vivia num dos países mais calmos do mundo. Nada daquilo me iria afectar directamente.
Uns meses depois, eu perdia o meu emprego. A empresa para a qual trabalhava foi à falencia com o rebentar da bolha dot com. A economia mundial estremecia. Mas parecia só um soluço. Dez anos depois, a 26 de Agosto de 2011, Anders Breivik faz rebentar uma bomba junto à sede do governo da Noruega. A 300 metros da minha casa. Por mero acaso, nesse dia estou de férias em Londres e sigo as notícias com o mesmo espanto surrealista de há 10 anos atrás. Quando regresso a Oslo, no meu caminho diário para o supermercado volto a passar por um mar de flores em memória das vitimas. Foi um acto de terrorismo praticado pelo outro extremo ideológico que levou ao 11 de Setembro, e a todas as outras datas que se seguiram pelo mundo fora (Espanha, Reino Unido, India, etc…), mas é difícil perceber as diferenças.
Dez anos depois o mundo está em crise. Não só económica, mas de valores. Matou-se Saddam Hussein, matou-se Bin Laden, mas nós ainda cá estamos, a lidar com as consequências do dia 11 de Setembro. E as esquecer-nos sempre que esse dia é consequência de outras coisas.