"Jogar futebol é ocupar o espaço"... Podemos parafrasear este lugar-comum dos comentários desportivos da televisão e dizer que, hoje em dia, fazer política é ocupar o espaço.
Repare-se: não se trata de "denunciar" o lugar-comum, acusando-o de mentir... Trata-se, isso sim, de sublinhar um dado inerente à nossa dinâmica social, política e simbólica: quando vemos David Cameron, primeiro-ministro britânico, em diálogo com uma mulher-polícia, tendo como pano de fundo uma das ruas destruídas durante os motins de Londres (BBC), a reconfiguração narrativa do espaço é, em tudo e por tudo, uma espantoso exercício de afirmação política.
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Nada que seja estranho, afinal, à estratégia corrente das televisões. Com uma significativa diferença de grau: as televisões colocam repórteres nos cenários dos eventos para, pela sua simples presença, fazer passar a ideia de uma verdade suplementar. Fica, porém, uma dúvida: porque é que alguns desses repórteres conseguem não avançar com nenhuma informação decorrente do próprio lugar onde estão, optando por gastar longos minutos com teses "sociológicas" sobre tudo e mais alguma coisa?
Há uma velha acusação, por vezes muito violenta, que é feita contra os "intelectuais": eles seriam aqueles que têm sempre alguma coisa a dizer sobre... seja o que for. Hélas!... tudo significa, lembrava Barthes. Mas a questão, aqui, não é essa. A questão é: porque é que muitos emissários das televisões se apresentam (e são apresentados) como sacerdotes daquilo que serve de pano de fundo à sua própria imagem?