domingo, agosto 21, 2011

Outros olhares sobre a Irlanda


Obras recentes do compositor irlandês Donnacha Dennehy 
com colaborações vocais de Iarla Ó Lionaird e Dawn Upshaw. 
Edição pela Nonesuch Records.

Donnacha Dennehy (n. 1970) é uma das figuras mais destacadas do panorama da música irlandesa dos nossos dias (pois é verdade, há por aqueles lados mais que U2, Van Morrission ou Sinéad O’Connor). Muitas vezes descrito como um pós-minimalista, chamou atenções nos anos 90 com obras que exploravam ritmos e timbres, traduzindo algumas das composições um sentido de optimismo que então marcava o quotidiano de um país em tempo de crescimento económico. Foi o fundador do Crash Ensemble (que trabalhou, entre outros, com figuras como Steve Reich, Gavin Friday, Terry Riley, Gavin Bryars, David Lang, Philip Glass ou Louis Andriessen) e dá aulas no Trinity College, em Dublin, onde fez parte da sua formação.

Foi com Gra Agus Bás que, em 2007, inscreveu de forma determinante o seu nome no mapa mundial dos grandes acontecimentos musicais do nosso tempo. A obra, para voz e ensemble, escuta ecos de antigas tradições musicais irlandesas (em concreto o sen-nós, uma forma de canto) e, de resto, nasceu de um trabalho próximo com Iarla Ó Lionaird (que integra os Afro Celt Soundsystem), voz experiente por esses caminhos e que acompanhou o trabalho do compositor. A obra é um corpo com identidade claramente procurada entre uma genética antiga, mas que vive formas presentes, a voz encontrando uma música que progressivamente a envolve, ganha corpo e dinamismo. Mais emocional que política, a obra não pretende ser um depoimento nacionalista, como explica o booklet que acompanha o disco. Mas não deixa de ser uma das mais impressionantes manifestações de identidade que a música da Irlanda nos deu a conhecer nos últimos tempos.

A completar o alinhamento do álbum surge o ciclo de canções That The Night Come, de 2010, novamente um trabalho pensado em colaboração com a voz que lhe deu corpo. Neste caso, a soprano norte-americana Dawn Upshaw, com quem o compositor selecionou os poemas de W.B. Yeats que foram ponto de partida para pequenos quadros que, desta vez usando a língua inglesa, não deixam de traduzir um sentido de busca de uma música que defina uma noção de identidade (geográfica, cultural) que assim cruza todo este disco.



Excerto de Gra Agus Bás, com a participação vocal de Iarla Ó Lionaird.