Mais um belo documentário da HBO: passou na RTP2 e reflecte um tocante humanismo — este texto foi publicado no Diário de Notícias (26 Agosto).
Distinguido no Festival de Tribeca de 2010 como melhor documentário, Monica & David, de Alexandra Codina, é um exemplo modelar de seriedade televisiva (passou domingo, dia 21, na RTP2). Nele se segue a trajectória de um homem e uma mulher afectados pelo síndroma de Down, filmando as atribulações íntimas, familiares e sociais de uma complexa vida em comum (a decisão de Monica e David se casarem afecta, de forma decisiva, todo o seu quotidiano).
Em boa verdade, o filme segue padrões convencionais: por um lado, registando diversas situações do dia a dia dos protagonistas; por outro lado, pontuando essas situações com pequenas entrevistas com os próprios, alguns familiares e outras pessoas que fazem parte da sua existência. Mas até mesmo num registo corrente é possível fazer a diferença. Porquê? Porque se recusam aqui os dois vícios mais banais deste tipo de produtos: não há nenhuma atitude paternalista em relação a Monica e David, como não há qualquer tentativa de “dramatizar” de forma gratuita aquilo que nos é mostrado.
A diferença não é pequena. De facto, com o triunfo da reality TV (e seus derivados “jornalísticos”), a televisão tende para uma grosseira instrumentalização do factor humano. Na prática, somos todos monstruosos e caricatos (como nos “apanhados”), salvando-se apenas os eleitos pela ideologia mediática dominante (os “famosos” e a infinita inanidade das suas poses e declarações). Monica e David estão vivos. E nós também, quando os olhamos com olhos de ver.
>>> Festival de Tribeca: entrevista com Alexandra Codina.