* Melhores & piores. Já sabemos que os tops dos "melhores" e dos "piores" são divertidos, mas arbitrários. Salutarmente arbitrários, digo eu: qualquer espectador inteligente sabe que o seu olhar não se confunde com nenhum outro...
Vem isto a propósito de um daqueles balanços intermédios (o primeiro semestre de 2011) que o calendário vai justificando. Assim, Peter Travers, crítico de cinema da revista Rolling Stone, vem propor os seus "melhores & piores", começando por nomear os dois títulos que, para já, lideram os seus Oscars: A Árvore da Vida, de Terrence Malick, e Midnight in Paris, de Woody Allen. Depois, acrescenta várias listas (actores, actrizes, produção independente, etc.), desembocando no "pior filme de 2011". Ou seja: Transformers 3. Travers considera mesmo que ver um filme como este é "morrer um pouco por dentro".
Fica, por isso, uma observação made in Portugal, lembrando um discurso mentiroso que circula, segundo o qual só a "crítica" portuguesa se alheia de tudo o que é "popular"... Fica por discutir a agressiva redução dos críticos a um rebanho que fala sempre a uma só voz (a "crítica" e não os críticos), do mesmo modo que fica por questionar o simplismo teórico que consiste em nomear o "popular", escamoteando todos os seus cruzamentos mais ou menos perversos com a economia e o funcionamento dos mercados... Ainda assim, vale a pena recomendar a leitura de Peter Travers (até prova em contrário, cidadão genuinamente americano).
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* Blockbastards. A propósito do texto sobre Transformers 3, aqui publicado ('Para matar o cinema'), recebemos um mail de Augusto Moita de Deus, que agradecemos. Lembra ele que os blockbusters existem, antes do mais, como objectos de um "caudal financeiro" que, em grande parte, se realiza com os espectadores que vão ao cinema "sexta à noite ou sábado à tarde". E conclui: "(...) há filmes-bandeira duma certa forma de produzir cinema, que em si propagam uma ideologia de produção cinematográfica. Não cultivando o dom da narrativa, não cultivando a essência do cinema, eles pretendem impor uma forma de ver cinema, de consumir cinema, para justificar e perpetuar a sua 'máquina'. No fundo, estou a falar dos blockbastards."