quinta-feira, julho 07, 2011

"News of the World" (1843 - 2011)


Foi um dos símbolos mais perenes e mais universais da imprensa tablóide: na sequência do seu envolvimento numa série de escândalos em torno de escutas telefónicas (de vítimas de vários processos, personalidades da política e do espectáculo, etc.), o jornal britânico News of the World vai ser fechado — a sua derradeira edição terá a data de 10 de Junho de 2011.
Publicado pela primeira vez no dia 1 de Outubro de 1843, propriedade da News International, de Rupert Murdoch, desde 1969, o News of the World serviu de padrão para toda uma vertente do jornalismo, especulativa e demagógica, com ramificações em diversas áreas da comunicação (incluído a chamada imprensa "cor-de-rosa"). Nos últimos anos, um dos exemplos mais típicos das tácticas sensacionalistas do jornal ocorreu em torno da "publicação" dos diários de Kate McCann [na imagem: um exemplo de uma manchete desse período].
O News of the World consagrou um estilo que não pode ser discutido apenas em torno da questão (básica, como é óbvio) das relações do jornalismo com o enunciado da verdade. Para além do carácter (muito ou pouco) fidedigno das suas notícias, as suas páginas consagraram uma visão especulativa, alarmista e catastrofista do mundo em que qualquer cidadão se define apenas como potencial corrupto, surgindo a sexualidade como uma espécie de revelação mágica das "qualidades" e "defeitos" de cada um — ao longo dos anos, tal orientação valeu ao jornal alcunhas como "News of the Screws" e "Screws of the World". No momento do anúncio oficial da morte do News of the World, o presidente da News International, James Murdoch (filho de Rupert Murdoch), fez saber também que a edição final não terá anúncios e todas as suas receitas irão "para boas causas".
Fica uma lição cruel: mesmo nos seus momentos mais vergonhosos e menos respeitadores da dignidade humana, nunca o jornal se atreveu a escrever um obituário "antecipando" a própria morte que o justificava — e, no entanto, é possível fazer isso mesmo a propósito do News of the World, três dias antes do seu definitivo desaparecimento das bancas de todo o mundo.