sexta-feira, julho 22, 2011

Em conversa: James Blake (3)



Concluímos a publicação da versão integral de uma entrevista com James Blake 
que serviu de base ao artigo “Um músico solitário frente a multidões” que foi publicado 
na edição de 16 de Julho do DN Gente.

Tem-se aproximado da canção, o que podemos constatar no percurso entre os EPs de 2009 e 2010 e o álbum, já deste ano...

Sim, mas o curioso é que ao mesmo tempo sinto também vontade em escrever coisas que tenham a ver sobretudo com batidas. Vou editar um disco na Hemlock que é apenas feito de batidas. Não tem voz. Há ambientes, sounsdcapes [paisagens feitas de sons], mas são apenas beats... São os meus dois lados. A dada altura senti-me polarizado por um dos lados, mas sinto que agora estou a regressar um pouco ao outro lado. Mas mais amalgamado... Mas vamos esperar para ver...

É filho de um pai músico e de uma mãe designer. Sente que herdou de ambos algo que agora ganha forma no seu trabalho?

Há um elemento gráfico na minha música, sim. Se a minha mãe fosse uma terapeuta seria um terapeuta musical...

Em pequeno já sabia qual seria o seu futuro profissional?

Sabia que ia ser músico, que não faria outra coisa nem tinha outro plano.

Qual é a sua opinião sobre Arthur Russel, músico americano com quem, de certa forma, parece partilhar algumas importantes afinidades?

Só o facto de se mencionar do nome dele faz-me logo sorrir... Não tinha ouvido a música dele até ter feito o álbum. Mas nele descobri grande consolo. Sinto que ele fez tudo o que eu sempre quis fazer 20 anos antes de mim. Sinto que também não teve o reconhecimento devido, mas hoje felizmente já vai havendo mais gente que conheça a sua música. E isso deixa-me feliz. Eu próprio sou um recente convertido. Identifico-me com ele. Era alguém que produzia a sua música. E quase sinto culpa porque tive sucesso rapidamente. E ele, que escreveu canções espantosas, não o alcançou. Ele não recebeu o reconhecimento que merecia. De outro modo a música dele existe. É música pela música. E é com isso que me identifico. Quando estava a escrever o meu disco era nisso em que pensava. Fazer música pela música. Não para ser assinado pela Universal ou o que quer que seja. É o processo que me interessa. E isso é o que sentimos na música dele. Sentimos que microfone está a usar, as discrepâncias na sua forma de tocar violoncelo. E não traçaria mais paralelos entre mim e o Arthur Russel além de algo comum que é a solidão em que ele trabalhou. E era muito versátil. Teve uma carreira bastante ecléctica. Ainda não li a biografia mas vou fazê-lo agora. Se eu alcançar metade do que ele fez já serei um homem feliz.