segunda-feira, julho 11, 2011

Documentário & ficção


1. De que falamos quando falamos de documentário?
2. Ou ainda: quando é que, no seu didactismo, o documentário se revolta e desafia a própria prova de real que, ilusoriamente ou não, o sustenta?

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Eis duas perguntas que a maior parte das linguagens televisivas (em particular as da área jornalística) não colocam. Na melhor das hipóteses, por comovente ingenuidade; na pior, por vergonhosa cedência à ditadura naturalista que, todos os dias, triunfa no espaço específico da telenovela (modelo dantesco de ficção que se vende como espelho "neutro" de tudo o que a sua vulgaridade se atreve a tocar).

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Angst, de Graça Castanheira, é um filme, nem documentário nem ficção (ou melhor: documentário & ficção) que assume tais interrogações para nos mostrar que a identidade daquilo que aborda — a consciência dos limites do petróleo e, mais do que isso, da civilização que nele se exprime e reproduz — implica a discussão do olhar que organiza o seu discurso. Chama-se a isso respnsabilidade das imagens — e dos sons, hélas!
Pensar, então, o infinito das galáxias? Sim, na certeza de que essa é apenas uma variante da nossa arte (ou da falta dela) para dizer eu.
É um dos grandes filmes portugueses dos últimos anos e também, desde já, em Vila do Conde, um dos acontecimentos centrais da edição do "Curtas".