Patrick Wolf
“Lupercalia”
Mercury Records
4 / 5
A coisa começou com uma carga quase épica. Chamar-se-ia Battle, um duplo álbum lançado em duas partes, a primeira na forma de The Bachelor (que escutámos em 2009), a segunda anunciando-se então para um futuro próximo sob a designação The Conqueror... Afinal não foi bem assim e, dois anos depois da promessa, a conclusão do díptico afinal tomou outro sentido e outro nome. Fará ainda sentido encarar os dois álbuns como díptico? Talvez não, a menos que a ideia de um vincado contraste, de uma justaposição de opostos, traduza num par de álbuns o quão diferentes The Bachelor e Lupercalia afinal se apresentam. Com um título que ecoa memórias de um antigo ritual de purificação, Lupercalia é um disco de paz encontrada. Uma paz que se expressa não apenas no desviar das linhas de tensão para outros comprimentos de onda, como se revela numa mais suave ordenação de ideias, inclusivamente aceitando uma redução de elementos em cena fazendo deste talvez o mais contido dos discos de Patrick Wolf. Não que se percas o sentido de grandiosidade cénica que sempre levou a algumas canções nem a fragilidade emocional que igualmente caminhou sempre entre temas dos seus discos. Lupercalia não repete a ousadia das visões dos diálogos entre electrónicas e ecos folk de Wind In The Wires (de resto é dos seus discos o que menos parece interessado em explorar a faceta folksy que por várias vezes já levou às suas canções) nem pisca o olho a dinâmicas mais ritmadas para pop e electrónicas que em temos escutámos em canções como Vulture ou Accident and Emergency (não evitando contudo em Together um delicioso piscar de olho a heranças disco à la Moroder). É antes um disco que parece querer estabelecer um patamar de síntese de ideias pop, conciliando electrónicas e orquestrações, grandiosidade e intimidade, cores e silêncios. Não será nunca “o” álbum de referência da sua discografia. Mas é um belíssimo disco que em tudo nele confirma um dos grandes autores pop do nosso tempo. Que o digam preciosidades como The City, Bermondsey Street ou Time Of My Life, alguns dos melhores instantes de um alinhamento onde, todavia, não há instantes menores.