A estupidez no jornalismo pode e deve ser veemente denunciada. Se outras razões não houvesse, bastaria o facto de os seus valores (?) difamarem todos os dias as próprias práticas jornalísticas.
Nas últimas semanas, assistimos a mais um lamentável exemplo de tal comportamento, e tanto mais quanto a estupidez jornalística se associa, aqui, a um entendimento medíocre e desumano da própria arte de fazer política. Assim, retomando um processo político que marcou toda a campanha eleitoral de Barack Obama, voltaram a surgir especulações em torno da legitimidade do certificado de nascimento do Presidente dos EUA. A 27 de Abril, a Casa Branca decidiu mesmo divulgar a versão integral (long form) do documento, tendo Obama surgido na respectiva sala de imprensa para encerrar o assunto com uma inequívoca afirmação: "Não temos tempo para este tipo de estupidez. Há coisas melhores para fazermos."
Em todo o caso, três dias depois, o Presidente aproveitou o tradicional jantar anual com os jornalistas em serviço na Casa Branca para voltar ao assunto, agora num registo de genial ironia cinematográfica. Foi um discurso pontuado por demonstrações através de imagens de cinema, em particular com uma divertidíssima utilização de um extracto de O Rei Leão.
Desembocando no trailer de uma sequela de O Discurso do Rei (!), Obama deu uma renovada lição mediática, inerente à prática política da sua presidência. A saber: o uso dos actuais meios de comunicação — em especial da televisão — envolve formas muito específicas de poder que podem e devem ser sistematicamente avaliadas. Por quem? Por todos os cidadãos, a começar pelos políticos. Barack Obama é um dos que não abdica de tal direito — video do canal C-Span, com a intervenção integral do Presidente.