I. É impressionante observar como os dispositivos televisivos favorecem o menosprezo pela língua como fundamental valor patrimonial [este post integra parte de uma crónica publicada no DN, 15 Abril].
II. Nada a ver com os inevitáveis incidentes de comunicação que podem afectar todos os que, de uma maneira ou de outra, se exprimem na televisão. Também não se trata de proclamar qualquer purismo intocável da língua. O certo é que há fenómenos de banalização do erro que desafiam a mais básica dignidade do português que se fala ou escreve. Exemplo sintomático entre todos: vivemos num país em que já quase ninguém aplica a expressão "à última hora", tendo triunfando essa coisa horrível e deselegante que é o "à última da hora"...
III. Mais recentemente, assistimos a uma espécie de poupança nos tempos dos verbos. E a avalancha parece impossível de conter, a ponto de ser assumida como um tique da moda.
IV. De que se trata, então? Começou no desporto, mas já contaminou toda a informação: a pornografia dos infinitos. Assim, tornou-se quase impossível ouvir uma frase do género: “No domínio da ciência, há uma nova invenção...” Nada disso. Agora, o disparate triunfa na forma apoteótica de: “No domínio da ciência, dizer que há uma nova invenção...”
V. É impressionante como tal disparate se instalou no dia a dia, com locutores a começar frases sucessivas com "Dizer que...", "Lembrar que...", "Referir que...". Pequeno mistério: já ninguém pensa a televisão que (não) se faz? E onde estão os responsáveis editoriais? Ou ainda: a destruição da língua portuguesa passou a ser (mais) uma das prioridades da ideologia televisiva?
>>> Imagem do blog da United Inventors Association of America.