1. De que falamos quando falamos dos 48 anos do Estado Novo?
2. No sistema "informativo" dominante nas televisões, e através das televisões, falamos de algumas imagens soltas de Salazar e Marcelo Caetano, depois de uma montagem acelerada sobre o dia 25 de Abril de 1974, finalmente de Grândola, de José Afonso, na banda sonora. Falamos de um método de (des) conhecimento em que a proliferação de simbologias pueris desarma qualquer desejo de história.
3. No filme 48, de Susana Sousa Dias, as imagens que se evocam são "apenas" as de alguns prisioneiros da PIDE, tal como ficaram nos arquivos da polícia política [exemplo em baixo]. Na banda sonora, estão as vozes actuais das pessoas que vemos fotografadas. Resultado: a invenção de um novo tempo (cinematográfico, sem dúvida) em que a memória deixa de ser um gadget mediático para existir como uma matéria habitada por corpos cuja carnalidade não se deixa escamotear em nenhum discurso panfletário — é um grande filme político, em tudo e por tudo exterior à miséria de pensamento em que, politicamente, tão mal vivemos.
>>> 48 estreia no dia 21 de Abril.
>>> Sobre o Estado Novo (1926-1974).