sábado, abril 16, 2011

"Geração à rasca" – a marca

REMBRANDT
Estudo de um velho de perfil, c. 1630

1. Os organizadores das manifestações do passado dia 12 de Março acabam de fundar o “Movimento 12 de Março – M12M”. A notícia justifica atenção e reflexão, em particular porque envolve uma decisão complementar: o registo da expressão "Geração à rasca" como marca, a fim de "evitar utilizações abusivas, nomeadamente em actividades com fins lucrativos, de cariz partidário, religioso ou violento."

2. Mais do que nunca, importa resistir aos muitos maniqueísmos (políticos, ideológicos, etc.) que tendem a envolver os fenómenos sociais de protesto, sobretudo através da sua apropriação pelo mais medíocre jornalismo televisivo. Dito de outro modo: as energias, discursos e ideias que se têm colado ao íman da "Geração à rasca" são suficientemente plurais para que não esqueçamos que a sua simples existência coloca algumas interrogações pertinentes – e não apenas ao actual governo português, mas a toda a classe política.

3. Seja como for, a lógica de marketing que, a partir de agora, passa a enquadrar a expressão "geração-à-rasca" vem diminuir de forma drástica as suas eventuais singularidades. Na prática, seremos sempre levados a pensar que a sua mera citação coloca qualquer exercício discursivo sob a égide de uma lei que nunca, durante mais de um século, afectou a circulação de palavras como "capitalismo", "democracia" ou "comunismo" – e o pensamento com elas envolvido.  De que falamos quando falamos de geração à rasca? Da lei que o seu imaginário desafia? Ou da lei em que a sua prática se resguarda?