Este texto, sobre o livro O Ponto Ómega, de Don DeLillo foi originalmente publicado na coluna ‘Ver, Ouvir e Ler’ na edição de 9 de Abril do DN Gente.
É perante imagens do Psico, de Alfred Hitchcock, que entramos nas páginas d'O Ponto Ómega, do norte-americano Don DeLillo. Imagens transformadas, segundo a leitura de 24 Hour Psycho, obra de videoarte criada por Douglas Gordon. Quem nos faz ver essas imagens é um dos protagonistas do livro. Um intelectual com trabalho feito ao serviço do Pentágono, para quem idealizou conceitos a aplicar na Guerra do Iraque. Encontramo-lo numa sala de museu. "Estava ali parado há mais de três horas, a olhar. Era o quinto dia seguido em que vinha àquele lugar e o penúltimo antes de a instalação ser desmontada e viajar até outra cidade", lemos no prólogo que antecede as cenas que se seguem. Cenas que, como num filme mais reflexivo e contemplativo que feito de uma evidente trama narrativa e acção, se prolongam mais feitas de detalhes, memórias ou reflexões que de acontecimentos... "A verdadeira vida tem lugar quando estamos sozinhos a meditar, a sentir, perdidos nas nossas memórias a vasculhar sonhadoramente no nosso ambiente, os momentos microscópicos"... Palavras que se atribuem à mesma personagem, que nestas páginas aceita a companhia, na sua casa a meio do deserto, de um cineasta que sonha um documentário-entrevista num plano sequência. E de uma filha que, ao surgir (e depois desaparecer), agita de forma ténue o tom das conversas entre os dois, num fluxo tranquilo que Don DeLillo cria com recurso a uma espantosa economia de palavras onde, contudo, não falta espaço para as ideias.