sexta-feira, abril 01, 2011

Dr. Oz: falando sobre o cancro


O show do Dr. Oz sabe falar de saúde e doenças sem simplificar a dimensão humana dos problemas em causa — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 de Março), com o título 'Falando sobre o cancro'.

Gerado em 2004, no show de Oprah Winfrey, o trabalho televisivo do Dr. Oz (SIC Mulher) autonomizou-se, movendo-se numa zona de comunicação que está apenas a alguns passos da fronteira onde começa a televisão estupidamente fútil e, sobretudo, violentamente demagógica. Que fronteira é essa? É aquela a partir da qual o “aconselhamento” do espectador se faz em nome da sua infantilização militante, obrigando-o a comportar-se como um ser desprovido de inteligência que se limita a contemplar os “especialistas” como sacerdotes intocáveis de uma qualquer religião mediática...
O certo é que Mehmet Oz sabe permanecer aquém dessa fronteira. Uma recente edição dedicada ao conhecimento e prevenção das mais frequentes formas de cancro pode servir de modelo. Através de uma elaborada combinação de informações didácticas, comentários de outros médicos e diversos elementos visuais, foi possível falar do cancro sem tratar a doença como um quase interdito moral, ao mesmo tempo não simplificando as suas ameaças e incidências. Acima de tudo, os participantes da audiência (desde os que colocaram perguntas até aos que trouxeram algum testemunho pessoal) foram respeitados na sua singularidade, valorizando explicitamente as suas responsabilidades pelas respectivas opções de vida. Tudo tratado para encaixar nos modelos de um “talk show” rigorosamente cronometrado? Sem dúvida. E porque não? Antes isso que o espontaneísmo grosseiro dos programas que, além de menosprezarem as especificidades de cada espectador, banalizam qualquer conceito de espectáculo.