segunda-feira, abril 18, 2011

De regresso a Lisboa

Foto: Cosimo Filippini

Duas noites ao som da música de Mahler no Grande Auditório da Gulbenkian, frente a nova visita da Gustav Mahler Jugendorchester. Há um ano foi particularmente inesquecível a noite (novamente num domingo) na qual, e sob direcção de David Afkham, se escutou o Adagio da Sinfonia Nº 10 (que o compositor nunca chegou a completar). Um ano depois, a mesma orquestra, a mesma obra, desta vez sob segura e comunicativa direcção de Philippe Jordan, as qualidades de uma música nascida num tempo assombrado para o compositor ganhando novamente expressão, cem anos depois, a pulsão dramática que cruza todo este longo andamento traduzindo um dos mais belos episódios da obra de Gustav Mahler e vincando o seu domínio absoluto de uma linguagem que dele faz ainda hoje uma das maiores referências na história da música sinfónica.
Há um ano foi com Shostakovich que esta música fez par, em concreto com a Sinfonia nº 13 que ecoa memórias de dor da história do século XX. O par traçou-se desta vez com Mahler, em concreto com o ciclo de canções que compôs em 1907 sob o título conjunto O Canto da Terra, ao lado de uma orquestra juvenil surgindo em palco duas vozes veteranas, em concreto as de do tenor Burkhard Friz e do barítono Thomas Hampson (que há poucas semanas editou em disco o ciclo Des Knaben Wunderhorn, também de Mahler pela Deutsche Grammophon). Ficaram claras as qualidades sinfónicas deste ciclo relativamente tardio na obra de Mahler, a sexta e última canção (na voz de Hampson) valendo como um dos mais arrepiantes momentos que aquele palco já escutou este ano.