sexta-feira, março 11, 2011
Reedições
Primal Scream, Screamadelica
Primal Scream
“Screamadelica”
Creation / Sony Music
5 / 5
Um absoluto clássico da música popular do fim de século (XX, entenda-se) e, juntamente com Blue Lines, dos Massive Attack (igualmente editado em 1991), um das principais portas para a entrada nos noventas. Os Primal Scream tinham já carreira desde meados dos oitentas, e dois álbuns já editados (o primeiro dos quais, Sonic Flower Groove, de 1987, sendo mesmo um dos antecessores de um certo revivalismo por formas dos sessentas que alcançaria maior fulgor no final da década). A verdadeira revolução que a club culture viveu entre 1987 e 88, sobretudo através da maré de entusiasmo gerada pelo acid house, contagiou entretanto músicos e públicos em comprimentos de onda variados, os herdeiros de genéticas rock’n’roll acabando, muitos deles, rendidos ás novas possibilidades que então se colocavam pela sua frente. Fenómeno que muito deve também ao culto de novos químicos (daqueles que não se passam por receita), a cultura rave de finais dos oitentas começou a conquistar a atenção de bandas em várias frentes, nomes como os Stone Roses ou Happy Mondays revelando, respectivamente em hinos como Fools Gold ou Hallelujah, uma nova pop animada pela força da música eléctrica mas revitalizada pelo viço das formas assimiladas na música de dança. Aos Primal Scream coube, em Screamadelica, gerar o álbum que definiria, melhor que qualquer outro, a essência dessa nova ordem. Contando com as contribuições de figuras como Andrew Weatherall (um “mestre” em terrenos dub) ou os The Orb (que no mesmo ano se afirmavam como figuras na linha da frente do fenómeno ambient house), os Primal Scream juntaram no seu terceiro álbum uma mão cheia de acontecimentos, ora explorando o prazer do inebriante poder da música de dança (visível em temas como Loaded, Come Together ou Don’t Fight It Feel It), ora evocando matrizes da identidade rock’n’roll (Movin’ On Up ou Damaged), desenhando paisagens ambientais (Inner Flight) ou atingindo a forma da canção perfeita, com claro sabor a algo novo em Higher Than The Sun. Vinte anos depois Screamadelica tem o sabor vintage de uma ideia que marcou o seu tempo. Transporta a carga de um momento histórico e revela nas suas canções uma capacidade de resistência ao tempo que só os grandes clássicos sabem gerar. Nesta reedição é-lhe juntando como complemento, num segundo CD, o Dixie Narco EP, importante complemento directo editado perto de um ano depois, no tema Screamadelica surgindo uma súmula de tudo o que ali se vivera.