sexta-feira, março 18, 2011

Novas edições:
Scritti Politti, Absolute - The Best of


Scritti Politti
“Absolute – The Best Of Scritti Politti”

Virgin / EMI Music

4 / 5


Uma das mais interessantes bandas pop dos oitentas, com vida (com bom rumo) reencontrada recentemente, os Scritti Politti apresentam finalmente aquela que é a sua primeira antologia de singles. Com efeito, Early (compilação editada em 2004) representava, como o título sugeria, um olhar pelo período inicial da vida do grupo, escutando os ecos directos da euforia pós-punk que, entre finais de setenta e inícios de 80 animavam o colectivo que nasceram em Leeds em 1978, estreando-se em disco poucas semanas depois com o single Skank Bloc Bologna... Esse é o único instante dessa etapa recordado agora em Absolute – The Best Of Scritti Politti, retrato que centra as atenções na produção do grupo nos anos 80, abrindo uma janela adicional para recuperar quatro temas de Anomie & Bonhomie (álbum de 1999 que correspondeu a um primeiro “regresso” à actividade), ignorando contudo o mais bem vitaminado (e elogiado) White Bread Black Beer, de 2006... A história dos Scritti Politti conheceu “saltos” (ler mudanças de rumo) que muito devem a duas breves sabáticas. A primeira em inícios dos oitentas, com Green Gartside (natural da Cornualha) a regressar a “casa” para um retiro que abriu caminho à luminosidade pop mais arrumada que depois levaria ao histórico álbum de estreia Songs To Remember (disco de 1983 que incluía o belíssimo The Sweetest Girl e uma canção dedicada a Jacques Derrida). A segunda, pouco depois, levando desta vez o vocalista aos EUA, alargando os horizontes da música do grupo às genéticas da soul, do funk, do reggae (que se materializaria nos álbuns Cupid & Psyche ’85 e Provision, respectivamente de 1985 e 1988), mais tarde a música do grupo conhecendo flirts com o raggamuffin (aqui visitado na memória do single She’s a Woman, parceria com Shabba Ranks) e o hip hop (no já citado álbum de 1999). Em traços largos esta é uma história de visão e elegância ao serviço da pop, a fragilidade da voz angelical de Green Gartside (na verdade a alma do projecto) colocada ao serviço de canções que não só revelam um conhecimento dos métodos da escrita pop como, ao longo do tempo, souberam saborear a aventura do desafio de outras latitudes e inspirações, cativando mesmo, a dada altura, a atenção de Miles Davis, que tocou com a banda num concerto em 1985 e, mais tarde, colaborou, ao trompete, na gravação de Oh Patti. Absolute é uma visão transversal que peca apenas pela sobrevalorização do álbum menor de 1999, deixando de lado algumas outras pérolas dos discos de 1983 e 85 que são, ainda hoje, os momentos-chave da obra dos Scritti Politti. E novo junta dois inéditos, um deles, A Late Day and a Dollar Short (nascido de um reencontro com um velho parceiro de aventuras nos oitentas) revelando que a alma pop de Green Gartside não esmoreceu (nem a sua sempre viva e presente alma política).