domingo, março 13, 2011

As artes do palco, segundo Bernstein


Numa caixa de sete CD a Deutsche Grammophon propõe um panorama sobre a obra para “teatro” de Bernstein. Entre o musical, a cantata e a ópera, Theatre Works é uma antologia essencial da sua obra, juntando gravações dirigidas por Tilson Thomas, Kent Nagano e o próprio Bernstein.

O tempo tem vindo a dar razão aos que cedo reconheceram em Leonard Bernstein não apenas uma das mais vivas vozes de uma identidade musical americana mas também um dos grandes compositores do século XX. Herdeiro de, por um lado, toda uma herança maior da música ocidental (admirador de Mahler, de quem foi importante divulgador num tempo em que a sua música não morava ainda entre o repertório sinfónico global como hoje conhecemos) e, por outro, atento observador da América do seu tempo, fez da sua música uma expressão do seu aqui e do seu agora, cruzando linguagens várias, muitas então vistas como realidades exteriores aos “cânones”, encontrando no jazz, na música popular e até mesmo nos palcos da Broadway as referências que lhe deram, devidamente assimiladas, importantes marcas de identidade. Figura de importante perfil político, fez da sua música, sobretudo a que expressava uma carga narrativa, espaço para aprofundar mais ainda toda uma série de visões sobre a cultura e sociedade americanas do século XX.

Ganha assim peso maior o volume de obras que agora encontramos reunidas nesta caixa editada pela DG. Cronologicamente arrumadas segundo a data de estreia, em alguns casos reflectindo contudo versões tardias (e, podemos dizer, “melhoradas”), as cinco obras reunidas sugerem um interessante percurso evolutivo, com ponto de partida assinalado em On The Town (musical de 1944 aqui numa gravação de 1992 dirigida por Michael Tilson Thomas, captada no Barbican em Londres), caminhando pelo tempo fora até chegar à White House Cantata (criada a partir do musical 1600 Pennsylvania Avenue, estreada postumamente em 1997, aqui sob a direcção de Kent Nagano). São contudo peças centrais desta antologia os “clássicos” West Side Story e Candide e a ópera A Quiet Place, em todos os casos em gravações dirigidas pelo próprio Bernstein. De West Side Story recupera-se a pouco estimulante versão gravada com Kiri Te Kanawa e José Carreras nos anos 80 na qual se perde o fulgor vocal (menos polido, mais vivo) de leituras anteriores em disco ou mesmo das que chegaram à versão em cinema. Candide apresenta-se na soberba versão final que Bernstein apurou em 1989 e que desta obtra faz hoje uma das suas peças maiores, num mundo adiante das fronteiras do musical, da música popular e da ópera, não deixando nunca de os observar dentro da linha do horizonte. A ópera A Quiet Place (que inclui Trouble In Tahiti) é um drama familiar, um retrato vivencial da América de meados do século XX, e representa um dos outros grandes feitos de Bernstein ainda por merecer devido reconhecimento. Aqui, todavia, numa gravação que data de 1986, ou seja, poucos anos depois da altura da sua estreia.



Um excerto de A Quiet Place numa gravação de 1986 dirigida pelo próprio Leonard Bernstein.