sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Pelos filmes de Gotemburgo:
'The Mill and The Cross'


O ponto de partida é um quadro de Bruegel. Em concreto uma visão, que data de 1564, onde o pintor evoca uma cena bíblica em contexto de época, transportando um momento do caminho para o Calvário algures para um cenário na Flandres do renascimento. É de um olhar sobre esse quadro, que o realizador descobriu (e por várias vezes revisitou) num museu em Viena, na Áustria, que nasce The Mill and the Cross. A ideia é então simples: a de dar vida a várias entre as figuras que vemos no quadro, o filme, apesar de manter como recorrente o cenário que serve de fundo ao quadro (usando literalmente formas que não confundimos com um olhar sobre o real), procurando espreitar os espaços e hábitos do quotidiano dessas personagens.

Realizado pelo polaco Lech Majewski, The Mill and The Cross é assim um quadro vivo. Feito essencialmente de gente anónima, do moleiro (que vive no moinho que dá título ao filme e domina a paisagem) aos impiedosos elementos de uma milícia que mantém a ordem através de verdadeiro terror, o filme é um interessante exercício visual. Peca contudo quando tenta encontrar uma teia narrativa mais sólida onde, na verdade, bastaria uma representação de figuras e do contexto que as envolve. A presença de três actores nada anónimos (Rutger Hauer, Michael York e Charlotte Rampling) sublinha mais ainda o confronto entre o que era gente anónima no quadro que serve de ponto de partida a todo o filme e uma construção narrativa que na verdade não deixa nunca de ser tão fragmentaria como inconsequente.


Imagem do quadro de Bruegel no qual se baseia o filme The Mill and The Cross.

Vale assim o olhar das imagens, a reconstrução de figuras (com um guarda roupa que não esconde contudo que foi coisa costurada há dias e nem está gasto nem sujo) e um interessante trabalho de som (que não deixa contudo de realçar a falta de uma mais presente banda sonora).



Imagens do trailer de The Mill and The Cross.