terça-feira, fevereiro 15, 2011

Novas edições:
MEN, Talk About Body


MEN
"Talk About Body"

I Am Sound

4 / 5


Um disco não precisa de ter um rosto sisudo para levantar questões políticas sérias. E se queremos um exemplo de como, em clima de luminosidade festiva, e sob evidente presença de uma pulsão que convida à dança, se pode deixar bem clara toda uma agenda de temas e causas, então o álbum de estreia do colectivo MEN não pode ser melhor exemplo. Liderado por JD Samson (que conhecemos das Le Tigre), são um trio que junta as presenças activas de Michael O'Neill (Ladybug Transistor) e Ginger Brooks Takahashi (The Ballet) e ainda as contribuições de Johanna Fateman (Le Tigre) e Emily Roysdon. Editado há alguns meses, o single-aperitivo Off Our Backs mostrava um sentido pop numa canção dançável (e até mesmo irresistível) criada num espaço que, apesar de afinidades com algumas das outras aventuras de JD Samson, se afastava das linhas mais abrasivas que já correu noutras ocasiões. O álbum não só confirma as promessas de Off Our Backs (aqui todavia em versão menos pungente que a editada no single) como leva mais longe ainda o patamar da surpresa, deixando os créditos, no capítulo das referencias, bem claros numa canção que explica toda uma genética que passa pelos Orange Juice e os Gang Of Four. E é precisamente de uma matriz new wave que nasce um festim de cor e movimento, que junta ainda uma alma disco, um fulgor de cor e formas ao jeito de uns Tom Tom Club e até mesmo (como se escuta por exemplo em My Family) uma citação a formas hi-nrg. Com uma agenda de temas e debates em cena (Credit Card Babie$, por exemplo, aborda a homoparentalidade), JD Samson mostra através dos MEN uma banda que não só garante um novo campo de visibilidade pop a um manifesto político (que aborda a economia em tempo de guerra, as liberdades, os direitos) como dá uma valente lição a tantos outros militantes do filão pós-punk que, ao contrário do que este disco revela, não parecem saber reinventar além dos modelos escutados nos últimos anos toda uma agenda de referencias que, aqui, pelo contrário, respiram um clima bem mais arejado.