quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Novas edições:
James Blake, James Blake


James Blake
“James Blake”

Atlas / A&M

5 / 5


É curioso (leia-se interessante) verificar que duas das mais aclamadas edições discográficas dos últimos meses resultam de um reencontro de figuras nos universos da música (a que chamamos) popular com uma pulsão mais experimentalista. Longe de unânime, The Age Of Adz, de Sufjan Stevens, colocava em cena, ainda em 2010, um disco que não só desafiava os hábitos de gratificação imediata dominantes nos espaços pop/rock (feitos de canções para três a cinco minutos) como apresentava uma música de invulgar complexidade cénica. James Blake, que agora apresenta finalmente o seu álbum de estreia, nem ultrapassa por aí além as fronteiras de tempo habituais na música pop, e a sua música revela algo nos antípodas do sinfonismo de Sufjan Stevens. O álbum é porém um desafiante apelo à entrega do ouvinte à audição repetida, revelando assim aos poucos um mundo feito de electrónicas que aceitam por perto notas ao piano, uma voz frágil (mas incrivelmente expressiva) e um gosto, já esperado, pela exploração de ideias nos limiares do silêncio. Sem repetir o que nos foi mostrando nos sucessivos EPs editados desde finais de 2009, mas confirmando em pleno as potencialidades que lhe foram apontadas sobretudo com CMYK e Klavierwerke, James Blake dá o passo em frente e coloca o jovem músico inglês na linha da frente de uma nova geração de criadores que começam a definir uma ideia clara do que são novos caminhos que a música pode seguir neste século. Com raízes no dubstep, mas juntando as experiências de quem viveu as etapas de um ensino “clássico” numa escola de música, James Blake ensaiou nos EPs uma série de caminhos e ferramentas. Agora, em James Blake, confirma o que nos havia sugerido ao escolher como single de estreia para o álbum a sublime versão de Limit To Your Love (original de Feist). É a canção que o desafia, a sua voz suave, de sedutoras tonalidades soul caminhando sobre a discreta e minimalista base de sons onde batidas, silêncios e discretas linhas instrumentais desenham o espaço onde as ideias depois ganham forma. Não será exagero dizer que era “o” disco mais aguardado deste início de ano. E, desde já, é sério candidato a ser mesmo um dos potenciais “discos do ano” de 2011.